internato cap 40

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Tensão

Bernardo

Ouvia vozes, mas não conseguia identificar uma única palavra do que elas diziam. Vozes confusas que se misturavam com as sombras multicoloridas que se agitavam diante de mim me deixando mais confuso e enjoado. Sentia algo quente e úmido em meu rosto e uma dor latejante que me impedia de pensar. O que estava acontecendo? Indagava-me tentando colocar as mãos sobre o rosto, mas não as sentia. Era como se não existissem mais.

"Bernardo!" uma voz gritou ao longe. Uma voz aguda e histérica que eu conhecia muito bem. Théo? Pensei ainda atordoado. Olhava em volta procurando meu amigo, mas via apenas sombras disformes se movendo rapidamente. Porém elas estavam mais em foco do que alguns instantes atrás. Pisquei os olhos sentindo um enjoo intenso me dominar e tive que lutar contra meu estomago para que não vomitasse. Pisquei mais algumas vezes e pude enxergar o teto da sala. Um teto branco com inúmeras luzes pequenas sobre o gesso. Podia sentir minhas mãos agora e elas pressionavam o lado direito do meu rosto que doía intensamente. Ergui minha mão para que pudesse olha-la e ela estava suja de sangue. Era sangue a coisa úmida e quente que senti escorrer em meu rosto. Sangue causado pelo soco inglês de Izac. Eu meu lembrava de tudo agora. Ele havia me acertado com aquele instrumento de metal me fazendo perder a consciência momentaneamente.

Tentei me levantar, mas a dor era tamanha que me deixou ainda mais enjoado e acabei vomitando no chão da minha sala. Uma mistura do bife que comi no almoço e sangue da parte interna da minha boca que se feriu contra os meus dentes.

– Bernardo! – Théo estava ao meu lado e me abraçou apertado deixando transparecer que temia por nossas vidas. Seu corpo tremia e ele estava lívido.

– O que... – tentei dizer, mas a dor em meu rosto era tamanha que desisti da ideia logo em seguida.

Théo me soltou e pude ver Mirian sentada no chão um pouco mais afastada segurando o terço que sempre carregava no bolço. Ela fazia preces baixinho enquanto chorava desesperadamente. Olhei para onde o corpo do Sr. Joaquin estava a alguns momentos e me deparei com os restos de seu crânio e uma enorme poça de sangue, mas nada do corpo. Havia um rastro de sangue indicando que o corpo havia sido arrastado até a janela da sala próxima a sacada. A parede estava ensanguentada e a janela aberta.

– Ele jogou o porteiro pela janela – Théo choramingou – foi horrível, Be.

Théo chorava feito uma criança que havia acabado de cair no parquinho e ralado os joelhos. Nunca em toda a minha vida havia visto tanto medo.

– Cale a boca viadinho! – a voz de Izac veio de trás de nós me causando um arrepio estrondoso na coluna – Parece um bebe chorão!

Olhei para trás e vi o louco sentado na poltrona branca da sala com o soco inglês na mão direita e o revolve na esquerda apontado para a nossas cabeças. Ele estava sujo de sangue, mas não respingado como antes e sim com enormes manchas de sangue vermelho vivo em sua camisa, calça braços e pescoço. O louco havia pego o corpo do pobre coitado do porteiro e o havia atirado da janela.

Izac sorriu para mim de forma sádica e pude ver as engrenagens de seu cérebro funcionando enquanto ele tentava decidir a melhor forma de tirar minha vida. Com um tiro? Espancamento? Ele me atiraria pela janela? Qualquer uma dessas alternativas parecia válida para ele.

Eu quis correr. Tenho que admitir que quis levantar daquele chão e disparar pela porta gritando loucamente, mas sinceramente não sei se foi minha lealdade a Mirian e Théo ou o fato de eu ainda me sentir incapacitado que me impediu de ao menos tentar embora soubesse que não conseguiria. O olhar de Izac me dizia que se eu tentasse qualquer coisa ele me mataria.

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