Encolho-me na cama e estico minha mão com dificuldade, apenas para poder acariciar a cabeça de Zepp. Vê-lo é doloroso, porque Christian me deu ele, e porque já fazem três dias que eu não o vejo. Eu não consigo. Eu não levantei para tomar banho, não comi quase nada e deixei meu trabalho de lado.
Há tantas ligações perdidas no meu celular, mas eu o quebrei ontem à noite, então as ligações não vão mais me incomodar. Eu ainda estou no quarto da minha mãe, ninguém sabe que eu estou aqui, meus irmãos e nem as crianças. Eu pedi que mamãe ficasse quieta sobre isso. Eu só quero ficar aqui tentando entender o que estou sentindo.
Elevo meu olhar e vejo mamãe entrar no quarto e fechar a porta, ela se aproxima e acaricia meus cabelos sujos e embaraçados.
— Você precisa de um banho. — Diz com a voz embargada, posso notar a dificuldade para falar. — Eu te ajudo a fazer isso.
— Eu não quero. Meu corpo inteiro está doendo.
— Ana, não faz isso comigo. Você estava tão bem, não caia agora.
— Mamãe, eu nunca saí do chão. — Sussurro com o coração quebrado. — Eu quero continuar aqui, do que ter que correr riscos novamente.
— Ana, por favor, bebê. Vamos apenas tentar tomar um banho, ir para a sala. Eu fico ao seu lado.
— Você promete, mamãe? Promete que não vai soltar a minha mão?
— Nunca, querida. Nunca.
Encaro minha mãe por alguns minutos, minutos silenciosos. Encaro o seu olhar preocupado, a sua expressão cansada. Eu posso ver quase toda a sua dor. Depois de minutos eu me remexo pela cama, apenas para sentar, meu corpo protesta em dor, em abstinência a falta de movimentos.
Eu não quero levantar, ao contrário, eu quero me encolher mais e ficar na minha pequena bolha onde ninguém pode me ferir. Onde eu sou apenas eu, e eu não preciso fingir ser outra garota para estar com o homem que eu amo. Eu também não preciso vê-lo sofrer.
Mas eu me levanto, de forma lenta e dolorosa, caminho para fora da cama e quando me aproximo do espelho posso ver a imagem horrenda de mim mesma. Meu cabelo está oleoso e cheio de nós, meu vestido preto sujo e suado. Eu sou apenas a minha casca.
— Vamos, querida.
Mamãe para atrás de mim e me abraça, eu ainda me impressiono com a sua coragem. Ela me abraça mesmo depois de eu ter ficado dias sem tomar banho. Será que Christian faria isso? O que será que ele está fazendo agora? Provavelmente ele está sendo um bom garoto e fingindo ter uma família feliz com Lúcia.
Durante o dia, na frente das câmeras ele seria apenas dela, e a noite eu seria o seu conforto. A garota que ele pode foder em todos os sentidos. Isso o deixaria tão feliz.
Afasto os pensamentos. Ele não é assim, mas talvez eu seja. Sigo para o banheiro e fico parada encarando quando minha mãe vai até a banheira e a enche. E eu fico olhando para a água, subindo o nível até chegar próximo a borda. Mamãe se aproxima e para na minha frente, pequenas lágrimas brilham pelo seu rosto quando ela desabotoa meu vestido e me despe, até eu estar nua.
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Meu Pequeno Ponto Seguro
FanficApós uma vida infeliz, que começou ainda na infância com a partida do seu pai e o buraco que sua ausência causou, Anastásia se isolou do mundo, encolhendo-se em uma bolha de sofrimento que parecia que iria durar pela eternidade. No auge da dor, cans...