☠ Prólogo ☠

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Seria só mais uma noite enchuvarada qualquer, não fosse por aquela missão descabida. Resignado, o oficial Thomas arrastava suas botas de couro no chão lamacento, lutando para chegar ao seu destino. Se ao menos o chefe lhe tivesse permitido levar um parceiro, eles poderiam traçar um plano de abordagem para que ele não corresse o risco de ser morto antes mesmo de anunciar o motivo de sua presença. Mas ordens eram ordens. Mesmo que a ordem significasse deixar livre um pirata perigoso que levaram anos para rastrear e cuja captura o tornaria famoso, ele teria que simplesmente deixá-lo ir. Thomas não era do tipo que discutia uma missão dada.

Apesar da chuva torrencial que caía, a música da taverna ouvia-se de longe. E que taverna! Um lugar horrível, tomado por baratas e teias de aranha, como se há muito não fosse higienizado. Ao entrar, Thomas teve que prender a respiração para não vomitar com o cheiro de mofo. Quanto aos frequentadores do local - todos homens, sujos e mal vestidos - ao ouvirem a porta se abrir, imediatamente viraram-se para analisar o intruso, que pingava da cabeça aos pés, o elegante uniforme vermelho da marinha encharcado de água, o que teria causado calafrios em sua falecida mãe.

A música cessou no mesmo instante, gerando um silêncio incômodo.

Tentando ignorar os olhares de reprovação, Thomas tirou uma mecha molhada do rosto, logo localizando seu alvo sentado tranquilamente junto ao balcão, com uma caneca de rum ao lado e alguns comparsas ao seu redor. Seus longos cabelos castanhos estavam parcialmente presos no topo da cabeça, deixando à mostra um brinco de argola com um pingente de caveira. Tinha uma barba rala por fazer e vestia um sobretudo de couro escuro. Ao perceber o olhar de Thomas sobre si, ele se levantou, aguardando que o outro se aproximasse. Por sua vez, o oficial deu um passo à frente, enchendo-se de coragem ao abordá-lo:

— Você é o capitão Skyller, o pirata?

O sujeito o encarou por um instante com seus olhos verdes cheios de malícia.

— Depende de quem pergunta — disse ele, desembainhando sua espada e pressionando a lâmina contra o pescoço de Thomas em tempo incrível. — Posso ser, ou posso matá-lo agora.

— Eu venho em uma missão de paz — conseguiu dizer ele, engolindo em seco.

— Prossiga...

Tremendo, Thomas levou uma das mãos até a cintura, sob os olhos atentos de Skyller. Estava muito ciente de que qualquer movimento mal interpretado poderia significar o seu fim. No entanto, conseguiu desamarrar um pacote cilíndrico de couro junto de seu uniforme e o estendeu a Skyller, que o pegou com a mão livre.

— James Blythe pediu que lhe entregasse isso. É uma oferta de trégua.

Por um momento o pirata observou o pacote, incrédulo. Então atirou a cabeça para trás, gargalhando um riso sinistro de escárnio que se apoderou do local. Algumas pessoas mais próximas o acompanharam na risada, fazendo com que Thomas se sentisse um pouco bobo.

— James Blythe... e por que eu aceitaria qualquer coisa vinda daquele canalha?

Indignado com a ofensa proferida por aquele sujeito, que certamente era o pior de todos os canalhas, Thomas se encheu de coragem:

— O meu chefe não é um canalha!

Ainda rindo, Skyller fez um gesto a um de seus homens, que segurou os braços do oficial para trás, o imobilizando.

— E eu detesto puxa-sacos — sentenciou ele, afastando a espada para acertá-lo com um golpe certeiro.

Thomas fechou os olhos, já se preparando para o pior, quando uma voz feminina se fez ouvir, fazendo Skyller congelar a espada no meio do caminho.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora