Incrédula e boquiaberta, Elisa encarava Nadine do chão, ainda com a jaqueta de Henrique amarrada em torno da coxa machucada, mas mal se lembrando do ferimento. Ela tinha ouvido direito? Trezentos anos? Tinha algo de muito errado ali, porque aquilo simplesmente não podia ser real. Congelados no tempo? Com certeza aquilo era uma insanidade. Mas, por outro lado, como eles poderiam nunca terem visto um celular? E como explicar o modo que se vestiam e agiam?
Ela olhou de Nadine para Henrique, e por algum motivo o garoto não estava espantado com a resposta da pirata. Por que? Qual era a dele com aquele lugar sinistro? Já estava na hora de Elisa obter algumas respostas.
— Como assim congelados no tempo? — exigiu, segurando-se em um tronco para erguer-se do chão. — Diga logo o que isso quer dizer!
Instintivamente, Nadine deu um passo para trás como reação à agressividade do tom de voz, embora Elisa não estivesse exatamente em condições de ameaçar alguém. A pirata balançou o celular que segurava nas mãos.
— Não tão rápido. Ainda não nos disseram do que se trata este aparelho.
Henrique abriu a boca para responder, mas Elisa o cortou com o olhar.
— Não diremos nada enquanto não explicar o que é esse lugar!
Nadine lançou-lhe um sorriso ácido, preparando-se para rebater a condição imposta por Elisa, quando Eric se precipitou:
— Acho que ela tem o direito de saber, Nadine. Eles seriam executados pelo meu pai, ao menos merecem saber o porquê.
Ela fez uma careta para o garoto, cruzando os braços a contragosto.
— Você está muito estranho hoje, Eric. Estranho e participativo, mas vai em frente.
Enquanto Nadine saía de cena, agachando-se em um canto sombreado, Eric aproximou-se de Elisa. Por algum motivo, seu movimento incomodou Henrique. Certamente seria porque ele ainda não confiava nos jovens piratas.
— Existe uma magia antiga muito poderosa que envolve toda a ilha — começou Eric, dirigindo-se principalmente à Elisa. — Por muito tempo, essa magia impediu que qualquer humano chegasse até aqui, até o dia em que o pirata Henry Avery atravessou uma tempestade terrível. Seu navio foi levado por ela para uma porção de mar nunca antes navegada por nenhum marujo. Avery levava como carga uma quantidade incalculável de ouro que tinha saqueado de um povo antigo no Panamá, o qual chamavam de "O Eldorado".
— Espere um pouco! — exclamou Elisa, tomada de surpresa com a revelação repentina. — Está falando do tesouro de Eldorado? Não pode ser verdade, não há nenhum registro de que alguém o tenha encontrado. Além do que, isso é só uma lenda.
Eric a fitou com curiosidade. A garota tinha muita dificuldade em compreender o que a sua razão não conseguia explicar, o que tornava sua tarefa quase impossível.
— Não há registros porque Henry Avery nunca contou a ninguém o que descobriu.
— E por que ele faria isso?
— Para proteger o tesouro, é claro. Depois que a tempestade trouxe Avery e seu navio até esta ilha, ele nunca mais conseguiu tirar o tesouro daqui. Por várias vezes tentou voltar com ele para o mar, mas sempre era repelido de volta, então resolveu colocá-lo em um esconderijo até que pudesse voltar para buscá-lo. Mas ele logo percebeu que a ilha era traiçoeira, e um a um viu seus homens serem mortos por ela.
— Do jeito que você fala, parece que a ilha está viva.
— Ela está! — cortou Nadine em um tom ácido que fez Elisa encolher. — Não duvide disso.
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Libertália: Raízes Piratas
Fantasy🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...