☠ XXIV - O rato e a raposa ☠

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Quando Haya finalmente voltou ao acampamento com Elisa, algo lhe parecia estranhamente fora do lugar, embora não soubesse o que. Depois de tudo o que ouvira e lera, tudo o que ela queria era encontrar-se com John Fox para confrontá-lo sobre o seu passado. Até onde sabia, ele foi a última pessoa a estar de posse das páginas do diário de William Kidd. Algo não se encaixava.

Mas para a sua infelicidade, não o encontrou em lugar algum. Apesar de todos estarem muito ocupados preparando as armas para o ataque a Skyller, Henrique veio recebê-las com um sorriso no rosto. Parecia muito satisfeito em reencontrar Elisa. O sorriso, no entanto, desapareceu assim que soube da morte de Makanda.

— Nadine e Zaki estão bem?

— Na medida do possível...

James escolheu esse momento para aparecer, causando uma leve irritação em Henrique. Tudo indicava que ele tinha ouvido sobre a notícia fúnebre, mas preferiu não comentar nada a respeito.

— Haya, bem-vinda de volta — cumprimentou ele com uma reverência exagerada. — Henrique, por que não mostra o acampamento para a sua amiga enquanto os adultos conversam sozinhos?

Henrique fechou os punhos e respirou fundo para se conter. Em circunstâncias normais já não gostava de ser tratado como criança, mas ouvir a insinuação vinda de James era como receber um chute certeiro entre as pernas.

Ele encarou Elisa, que o olhava de volta com preocupação.

— Vamos — disse secamente, agarrando a mão da garota e arrastando-a para longe.

Vendo-os desaparecer, James balançou a cabeça, dando de ombros, como quem diz: "esses garotos de hoje não sabem como se divertir".

James levou Haya até a sua cabine improvisada, ao lado da de John Fox, para que assim pudesse monitorar melhor qualquer um que tentasse se aproximar dele. Assim que fechou a porta, foi logo enlaçando Haya pela cintura.

— Bem, acho que agora podemos terminar nossa conversa de antes, certo?

Ele inclinou a cabeça à procura dos lábios da pirata, mas ela o afastou com um empurrão decidido, fazendo-o recuar três passos.

Haya afastou-se até a janela, que era um buraco retangular entre as tábuas de madeira, mantendo uma distância segura de James.

— Não tão rápido — recriminou ela, séria. — Eu estava à procura de Fox. Pensei que o encontraria entre os homens, distribuindo ordens de guerra, mas não o vi em lugar algum. O que há com ele?

James conseguiu manter sua postura inexpressiva, enterrando a irritação que sentia em algum lugar profundo de sua alma.

— Infelizmente, John ficou doente de repente e está trancado em sua cabine enquanto se recupera. Não quer que ninguém o veja debilitado e ainda teme que o que tenha seja contagioso. Ele me nomeou como seu substituto no comando da guerra.

Haya analisou longamente as expressões faciais de James antes de dizer algo.

— Isso é... sério?

— Eu tenho cara de quem brincaria com algo assim? — indignou-se ele.

Abandonando sua postura rígida, Haya começou a andar de um lado a outro da janela, fazendo com que a luz solar que penetrava o ambiente dançasse aos seus pés.

— Bem, na verdade acho que você pode me ajudar a esclarecer algumas coisas.

James assentiu sem pestanejar.

— Sou seu criado, pergunte-me o que quiser.

Ela parou de andar, cravando os olhos nele.

— Recentemente, entrei em contato com as páginas faltantes do diário de William Kidd e elas me revelaram mais do que eu podia supor.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora