Libertália: Raízes Piratas

☠ XXV - Um novo dia ☠

Com a ajuda de Elisa, Haya conseguiu tirar Simon da cela, que agora sentava-se de costas, com tufos de cabelo negro caindo em seu colo ao serem aparados por uma adaga pirata. Era uma coisa boa serem as únicas mulheres do acampamento, porque podiam usar o espaço de seu dormitório como um esconderijo seguro. Nenhum homem jamais ousaria violar o seu descanso.

Ela tinha preparado uma tina com água e sabão e mandou Elisa pegar alguns suprimentos e roupas limpas enquanto o ajudava a tomar um banho para se livrar da sujeira secular de sua cela. Mas apesar de ter agido com rapidez e astúcia para salvá-lo, Haya não havia se recuperado do que encontrara lá embaixo, no porão secreto. A imagem de Fox morto não saía de sua mente. Além disso, Simon estava fraco demais para dar alguma explicação.

Haya tentou se concentrar em sua tarefa, cortando fora mais alguns tufos. Elisa voltou com um pão duro e um cantil com água, que Simon comeu e bebeu avidamente como se fosse o banquete mais apetitoso de todo o mundo. Vendo-o naquele estado deplorável, apenas uma sombra do pirata orgulhoso que fora um dia, Haya sentiu a raiva instalar-se em seu peito.

— O que foi que fizeram com você?

Seus olhos, refletidos pela luz fraca e bruxuleante do lampião, expressavam a dor de uma vida inteira de penitências e privações.

— Eu só estava tentando encontrá-la — disse ele em um fio de voz firme. — Cruzei com Fox enquanto fugia com Louis e ele se ofereceu para esconder o menino em seu navio. Eu não devia ter confiado quando soube que Blythe estava a bordo, mas não tinha muitas opções... Fox disse que ele tinha abandonado a farda... que estava de volta à pirataria...

Então James havia mentido mais uma vez. Não só encontrara Simon, como tinha navegado com ele até Libertália. E, em todo o tempo em que a vira sofrer pela perda de Simon, sabia que ele estava bem ali, vivo e ao seu alcance. Haya bufou, lutando para controlar sua raiva. Por mais que quisesse saber o resto daquela história, não podia forçar Simon.

— Por favor, não diga mais nada. Você ainda está muito fraco.

Mas a mão dele pousou sobre a sua, como uma gaivota que retorna ao ninho após uma longa jornada.

— Você precisa saber, Haya. Essa história é sua. E se o que James disse for verdade, não temos muito tempo... Fox tinha uns papéis escritos pelo capitão William Kidd...

Ela o interrompeu com delicadeza.

— Eu sei. Eu li esses papéis recentemente — disse, trocando um olhar significativo com Elisa, que suspirou com pesar.

Simon a encarou, espantado.

— Então você sabe...?

Ela aquiesceu, e por um instante sentiu os braços pesarem, incapaz de continuar sua tarefa. Simon a puxou para que ficasse de frente a ele.

— Eu sinto muito...

Haya encarou aqueles olhos que tanto amava. Mal reconhecia o homem desnutrido e maltrapilho que se tornara, mas ainda era ele. Seu Simon. Uma lágrima teimosa escapou do canto de seu olho esquerdo e ela a secou depressa, sentando-se ao chão em frente a ele.

— Tudo bem, continue a história. O que aconteceu no navio?

Simon puxou as mãos de Haya para si, fazendo-a largar a adaga e mantendo-as em seu colo enquanto falava:

— Eu descobri que Fox pretendia usar Louis para romper as fronteiras de Libertália e penetrar à ilha. Ele tinha o sangue de um verdadeiro descendente de William Kidd, o que deveria bastar... Fox estava obcecado com a ideia de confrontar Skyller, talvez envenenado pela ambição de James. Eu não podia deixar que o usassem, mas pretendia buscá-la em Libertália. Assim como James, sabia que Skyller a tinha trazido para cá. Então roubei as páginas e pedi a Louis que as guardasse como um tesouro. Preparei uma trouxa e peguei alguns fios de cabelo dele, o que deveria bastar para a minha passagem à ilha, então o embarquei em um navio com uma carta de recomendação para aquele seminário na Espanha, onde esperava que estivesse a salvo do conde e de John Fox. Eu prometi a ele que voltaria com você e que em breve seríamos uma família de verdade...