☠ V - Trezentos anos ☠

1.4K 224 473
                                    

Mais uma vez, Skyller sentava-se à mesma mesa em que discutira com Sarah sobre o destino de seus prisioneiros. Com Louise sentada ao seu lado direito, Sarah do lado esquerdo e Haya andando de um lado a outro, ele aguardava pela vinda da quarta mulher, uma espécie de guia espiritual para o seu povo. Alguém que todos respeitavam.

O silêncio incômodo somente foi rompido à sua chegada. O farfalhar suave do movimento de suas roupas anunciou sua presença, e todos se levantaram enquanto ela se dirigia ao assento à frente de Skyller. Era uma mulher de meia idade, embora seus traços tenham se perdido no tempo. Pele negra, olhos grandes e andar majestoso, ela segurava na barra de seu vestido, um tecido azul vivo, com estampas grandes e geométricas em um tom mais escuro, sem costura, apenas amarrado nos ombros e nas laterais do corpo. Seus cabelos estavam ocultos por um turbante da mesma cor, que subia-lhe pela cabeça como uma espécie de colméia gigante, denotando-lhe um certo ar de poder.

— Makanda — cumprimentou Skyller com uma reverência respeitosa. — Já deve ter ouvido falar de nossos prisioneiros.

A mulher acabava de se sentar, sendo seguida pelos outros presentes. Haya foi a única a permanecer em pé.

— Sim — ela sorriu. — Imagino que a presença deles deve tê-lo assustado muito, afinal é a primeira vez desde que chegamos.

— Realmente — ele lançou um olhar nervoso de Sarah até Haya. — E foi por isso que a chamamos aqui. Em princípio Sarah julgou prudente executá-los para eliminar novas ameaças, mas descobrimos que a garota pode ser descendente de Haya.

— Pode ser não, ela é! — contestou Haya no mesmo instante. — Veja esta carta, Makanda — ela estendeu-lhe o papel amarelado. — Foi escrita por meu filho, Louis, e pertence à família da garota chamada Elisa.

Makanda apenas segurou o papel, sem tirar os olhos de Haya. Em seu lugar, Sarah remexeu-se, contrariada. Aquilo para ela era uma perda de tempo.

— Sim, ela tem mesmo o seu sangue — falou a mulher, devolvendo-lhe a carta sem ao menos ler. — Posso sentir a força do laço que as une, e foi somente por causa desta ligação que ela pôde chegar até nós.

Haya abriu um sorriso de gratidão por aquelas palavras enquanto guardava o papel no bolso de seu casaco.

— Estão vendo? — disse, dirigindo-se a Skyller e Sarah. — Não podemos matá-la, Elisa é uma de nós.

— Isso é ridículo — impacientou-se Sarah. Ela inclinou o corpo pra frente, quase levantando de seu lugar. — Independente de ser sua parente ou não, ninguém pode negar que a presença desses dois aqui é uma ameaça! Quanto tempo se passou desde que a fronteira se fechou pela última vez? Imagine quantos descendentes nossos não passaram pela Terra nesse meio tempo, por que só agora um deles apareceu? É óbvio que isso indica que a magia da ilha está enfraquecendo.

Haya fechou os punhos, lançando-lhe um olhar letal.

— Makanda? — apressou-se Skyller, antes que as duas entrassem em vias de fato.

O olhar da mulher endureceu e sua postura tornou-se mais rígida.

— A preocupação de Sarah tem fundamento. Por mais forte que a magia seja, ela está enfraquecendo, e isso permitiu que esses garotos chegassem até aqui. Mais que isso, ouso dizer que ela está chegando ao fim, e quando isso acontecer, não existirão mais barreiras entre o nosso mundo e o deles, o que pode resultar em algo terrível.

Sarah sorriu, satisfeita com a resposta da sábia e provocando Haya.

— Então você concorda com a execução? — quis saber Skyller.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora