☠ II - Conhecendo o perigo ☠

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Por dentro, a taverna parecia bem maior que do lado de fora. Fedia a mofo e a peixe estragado e tinha teias de aranha por todos os lados. As janelas estavam fechadas e o local era iluminado apenas por alguns raios solares que entravam pelas frestas da madeira. Algumas mesas e cadeiras estavam meio quebradas, mas continuavam em sua disposição original e ainda podiam servir ao seu antigo propósito. Na extremidade oposta, o balcão toscamente talhado exibia algumas garrafas com a bebida pela metade, como se aguardando a volta de seu dono. A prateleira atrás do balcão estava cheia de tralhas, tudo com uma fina camada de poeira que ameaçava a rinite alérgica de Elisa. Mais acima, bem ao centro da parede, havia a pintura de um grande crânio negro de perfil com a mandíbula aberta, como se estivesse rindo ou fazendo uma careta de pânico, o que era difícil de decifrar, e uma ampulheta ao lado.

Elisa captou tudo isso em um segundo até localizar Henrique, que examinava a trinca de uma das janelas fechadas da parede lateral direita, e foi até ele decidida, cutucando-lhe o ombro com um pouco de força desnecessária. O garoto se virou com a ansiedade estampada na face, porém, quando seu olhar se cruzou com o dela, seu rosto contorceu-se em uma máscara nervosa.

— Você? O que faz aqui?

Elisa quase achou graça de seu espanto. Pelos seus cálculos, quem lhe devia uma explicação era ele.

— Ora, eu é que pergunto! O que está pensando? Esse lugar deve estar cheio de doenças...

Antes que ele pudesse responder, a porta que ficava ao lado do balcão e que Elisa não tinha reparado antes abriu-se, revelando a figura de um homem estranho. Somente então ela se deu conta de que a porta devia dar acesso à cozinha, surpreendendo-se ao constatar que o lugar não estava abandonado.

O homem deu um grito de pânico, deixando cair a panela que levava com um grande estrondo e derramando o caldo amarronzado pelo chão.

— Quem são vocês? Como chegaram até aqui? — ele arfava.

Tudo nele era muito estranho, desde suas vestes até o modo assombroso como os encarava. Parecia-se como uma figura saída de algum livro antigo de Alexandre Dumas. Tinha um corpo esguio e sua aparência suja e maltratada não combinava com a roupa, que outrora devia ter sido muito imponente, feita de um tecido nobre vermelho com botões e detalhes bordados em dourado. Era bonita, muito embora estivesse desbotada e rasgada em algumas partes da manga e da calça. Os longos e castanhos cabelos estavam amarrados para trás em um rabo de cavalo baixo e seus olhos verdes estavam arregalados, assustados com a intromissão daqueles dois jovens. Ele os olhava como se nunca tivesse visto nada igual e Elisa ficou intrigada com o modo que ele dissera sua última pergunta. Pelo que sabia, só existia um modo de entrar naquela taverna:

— Pela... porta?

Ela virou-se para Henrique e seus olhares se cruzaram em uma descrença mútua. O que significava aquilo tudo?

— Pelas barbas de Netuno! Olhem só para essas roupas — ele exclamava, os olhando de cima a baixo e gesticulando de forma exagerada enquanto se aproximava deles. — Vocês não deviam estar aqui, não deviam!

Elisa deu um passo para trás involuntariamente, tentando manter uma distância segura. Aquele homem a estava assustando.

— Acalme-se, senhor — tentou Henrique, erguendo a palma da mão para ele. — Só estamos explorando o lugar. O senhor é o dono dessa taverna?

A abordagem de Henrique o alarmou ainda mais, se é que isso era possível. As sobrancelhas ergueram-se no rosto, deixando os olhos ainda mais arregalados e ele ergueu uma colher de madeira que ainda segurava, apontando para os dois de forma intimidante.

— Não me faça perguntas! Isso aqui não é lugar para ser explorado — e baixando o tom de voz, olhou ao redor como se estivesse com medo de que alguém mais o escutasse. — Vocês têm que sair daqui imediatamente. Correm um risco terrível se ficar.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora