☠ XVI - Ritmo de fuga ☠ (Parte II)

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Quanto mais se aproximavam do porto, mais a cabeça de Elisa girava em uma nuvem de confusão. Agora, com a cidade de Santos bem à frente, custava a acreditar que tudo o que vivera até ali fosse real. Exceto pelas presenças de Nadine, Oliver e Omar, ela poderia dizer que teve uma grave crise de esquizofrenia aguda. No entanto, sua sanidade mental era a menor de suas preocupações no momento. Por ora, tinha perguntas mais importantes a responder, como: Como eles passariam pelos guardas do porto sem problemas? O que fariam com Omar e para onde levariam Nadine e Oliver? Como explicariam o sumiço em Ilhabela e o reaparecimento em Santos sem que ninguém os julgasse loucos?

As perguntas ficavam martelando em sua cabeça como irritantes pregos de sua recém recuperada razão.

— Para onde? — inquiriu a voz urgente de Henrique, materializando todos os pensamentos confusos de Elisa.

Ele continuava de pé, remando sem rumo, apenas tentando não chamar a atenção dos outros navios enquanto avançavam. Elisa fixou os olhos nas docas, tentando encontrar alguma brecha entre os contêineres para que pudessem passar despercebidos.

— Dê a volta no cais.

Henrique revirou os olhos, como quem diz: "Sério? Acha mesmo que já não tentei fazer isso?", mas continuou remando. Nadine e Oliver pareciam vidrados demais nas luzes da cidade para ajudá-los, hipnotizados pela modernidade brutal asfixiante. Omar permanecia com aquele sorriso irritante de lagartixa, como quem sempre tem mais algum truque na manga, mas se recusa a revelar seus segredos.

Alguns estivadores começaram a olhar torto para a pequena embarcação, cochichando entre si, e Elisa logo percebeu que tinham que se esconder antes que eles acionassem a guarda costeira e a coisa ficasse feia.

— Ali!

Ela apontou para um corredor de contêineres em uma extensa faixa que se projetava sobre o mar em um gigantesco píer. Se conseguissem se espremer entre o labirinto daquelas cargas, talvez houvesse alguma chance de escapar.

Henrique começou a direcionar o barco para o local que ela indicava, mas por mais que remasse, ele não parecia se deslocar com a rapidez necessária. Na verdade, pareciam estar em uma enorme tartaruga, lenta e totalmente visível. Sem poder ajudar com os remos, Elisa gesticulava de forma desesperada, como se assim pudessem chegar mais depressa.

— Escutem, assim que o bote atingir o píer, teremos que ser rápidos e sorrateiros — instruiu ela quando estavam a uma distância de duzentos metros.

O tom urgente em sua voz foi o suficiente para despertar Nadine de seu torpor modernista.

— Por quê?

— Porque seremos presos se formos pegos pela guarda portuária!

Nadine engoliu em seco, assentindo seriamente. Podia não ser daquela época, mas entendia perfeitamente a necessidade de se esquivar de autoridades policiais.

À cinquenta metros, Elisa ergueu-se de seu assento, agitada e impaciente demais para aguardar em seu lugar. Um navio bem menor e mais ágil que os de carga começou a segui-los, obrigando Henrique e Omar a dobrar a força dos remos, por mais cansados que estivessem.

Elisa não esperou que chegassem até a plataforma rebaixada, saltando para o píer assim que encostaram na estrutura de madeira.

— Depressa, vamos! — Ela estendeu a mão para Nadine e Oliver, os ajudando a sair da canoa.

Omar e Henrique logo abandonaram os remos, indo atrás de Elisa. Eles correram para o primeiro contêiner, escondendo-se bem a tempo. O navio que os seguia acabava de encostar-se no pequeno bote rústico de Libertália.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora