☠ XXVIII - Ruína ☠

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James encarou horrorizado aqueles quatro rostos que agora o fitavam com uma expressão assassina. De alguma forma ele acabara de matar de Louise, e seu corpo agora jazia na grama como uma boneca quebrada. Louise, por quem ele algum dia pensou estar apaixonado. Louise, que há muito desistira da vida pirata por achá-la violenta demais. Louise, que nunca fizera mal a ninguém.

Por um instante, ele apenas fincou os pés naquele solo instável que parecia estar acordando como um animal gigantesco. Ele havia ofendido todos os quatro ali presentes em algum momento. Skyller, Sarah, Simon, nem mesmo Haya teria clemência agora. Não havia como lutar contra todos eles, então James fez a única coisa sensata que poderia salvar sua vida naquele momento: ele fugiu.

Virou as costas e correu aos tropeços em direção à floresta, embora animais, piratas e vegetação parecessem estar saindo de lá. Skyller correu em seu encalço, finalmente sacando a pistola da cintura e atirando em sua direção. Infelizmente, nenhum tiro que ele pudesse disparar poderia alcançá-lo em meio ao caos.

— Volte aqui, miserável! — gritou ele, totalmente transtornado, ainda tentando traçar uma linha reta para segui-lo, embora James ficasse cada vez mais oculto pelos piratas que vinham na direção contrária. — Você não pode escapar para sempre!

Skyller empurrou uma dezena de homens em seu caminho, sem se importar com o motivo da presença deles ali quando deveriam estar lutando na orla da praia ou a procura de um abrigo nos arredores da floresta. Tudo o que conseguia pensar era no corpo rígido de Louise em seus braços e James escapando impune. Ele não podia escapar. Skyller jamais se perdoaria se permitisse isso.

Mas antes que pudesse embrenhar-se na mata a procura de James, um puxão firme em seu braço o fez cair para trás.

— Skyller, deixe-o — era a voz de Sarah, tão distorcida que mal parecia pertencer a ela — Temos coisas mais urgentes para tratar agora.

Ele ergueu os olhos, pronto para retrucá-la, mas encontrou um rosto tão retorcido pela dor quanto o seu.

— Ele matou Louise!

Sarah o agarrou pelo colarinho, o obrigando a ficar de pé. A fúria em seu rosto poderia explodir um galeão inteiro.

— Eu sei! Acha que também não quero cortá-lo em pedacinhos e fritar cada maldita parte no óleo e depois atirá-lo aos tubarões por ter matado minha irmã? Mas você é a porra do nosso líder, Skyller, e essa ilha está desmoronando, então mantenha a cabeça no maldito lugar e faça alguma coisa!

Skyller olhou ao redor, mal conseguindo respirar. Tudo parecia imerso em um profundo caos, mas ele ainda estava atordoado demais para assimilar o que os olhos viam.

— Ela morreu sem me perdoar...

Sarah o encarou com tamanha intensidade que Skyller pensou que fosse levar um soco, o que estava tudo bem. Ele achava que merecia mesmo isso. Mas então ela apertou seu ombro em um gesto de conforto.

— Isso não importa agora. Tente pensar em Eric e Oliver. Louise teria dado a vida por eles de bom grado, então trate de salvá-los.

Skyller ficou atordoado com a menção dos filhos. Em nenhum momento desde o início da batalha havia pensado neles. Agradeceu Sarah com um gesto curto de cabeça, projetando-se em seguida para o caos à procura dos dois.

Mas logo ele percebeu que aquela não seria uma tarefa fácil. A terra tremia com tanta força que tudo ao redor começava a ruir: casas, barracas, tavernas e qualquer coisa que ainda estivesse de pé. Horrorizado, ele assistiu enquanto um grupo de mulheres e crianças corriam de seu abrigo para a praia, fugindo de um bando de animais selvagens de aspecto assustador. Alguns deles chegaram a pará-lo para suplicar que fizesse algo, que os tirasse dali. No entanto, Skyller só conseguia pensar nos filhos, sozinhos em algum lugar em que ele não podia alcançar. Não conseguiria suportar se os perdesse também.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora