No Revenge, Skyller e Fox, assim como os demais homens no navio, permaneciam perplexos demais para continuarem com seus duelos particulares. O fogo se alastrava pela orla, engolindo tudo à sua frente como um dragão feroz e implacável. Em certo ponto, Fox cansou-se de assistir a tudo como um mero espectador impotente, partindo com sua fúria para cima de Skyller.
— Que espécie de truque é esse, seu rato trapaceiro? — grunhiu ele, agarrando-o pelo colarinho.
Skyller agarrou as mãos de Fox, tentando afrouxá-las para respirar.
— Acha que eu fiz isso? — disse ele com dificuldade. — Por que mataria meus próprios homens? Por que destruiria toda a encosta da ilha, a nossa casa?
Um rosnado rouco de revolta saiu da garganta do pirata. Para a sua frustração, o que acabava de ouvir fazia sentido. Ele soltou Skyller, passando a andar de um lado a outro pelo tombadilho, desviando de alguns corpos caídos.
— Então de onde vem todo esse fogo?
Skyller ergueu-se novamente, apoiando-se na amurada do navio.
— Você vive nesta ilha a quase tanto tempo quanto eu, o suficiente para saber que ela às vezes age como um organismo vivo. Fazia tempo que ela não se rebelava, mas parece que desta vez as forças ocultas se irritaram de vez, ou seja lá o que move esse pedaço de terra obscuro.
— Senhor!? — gritou um dos homens junto ao mastro principal. — O que faremos?
Skyller franziu o cenho. Não podia simplesmente permanecer inerte enquanto Libertália queimava à sua frente, destruindo todo o seu legado. E principalmente, precisava salvar a sua família. Louise e seus filhos deviam estar perdidos em algum lugar no meio daquele caos infernal, e nem que tivesse que se embrenhar sozinho por aquele labirinto escaldante, ele os resgataria.
— Aproxime-se da orla. Resgataremos os sobreviventes.
Aquilo não agradou a Fox.
— Está louco? Se fizer isso, iremos todos morrer.
— Não posso deixá-los queimar sem fazer nada, John. Sei que está ansioso com a sua guerra, mas de que adiantará vencer se ao fim restarão apenas três homens e uma ilha destruída?
Por mais que Fox detestasse concordar, tinha que admitir que Skyller estava com a razão. Diante de tamanho caos, sua tão aguardada guerra teria que ser, mais uma vez, adiada.
— Não sei como fará isso, mas em nome de nossa antiga aliança, eu recuarei. — Ele olhou para a costa em chamas, perguntando-se quantos de seus homens conseguiriam sobreviver. — Tendo em vista a terrível tragédia que nos assola a ambos, proponho-lhe uma trégua de sete dias.
— Não esperava outra coisa de você, John. — Skyller estendeu-lhe a mão. — Trégua aceita.
Fox assentiu seriamente, apertando-lhe a mão.
— Homens, recuar! Regressar ao navio!
Enquanto os homens de Fox afastavam-se e o Revenge seguia adiante, direto ao fogo, Skyller percebeu uma sutil mudança nas labaredas acima das nuvens. Lentamente, as chamas iam ganhando uma tonalidade azulada, e o calor, antes abrasador, já se tornava suportável.
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Imóvel e compenetrada, Makanda observava a ampulheta sem despregar os olhos, como se as rachaduras pudessem se quebrar caso ela os desviasse por um segundo. Em seu trono de ouro, as fissuras do artefato vibravam como nunca, uma névoa esverdeada pairando ao seu redor como um véu de veneno. As areias continuavam a cair lentamente, cada grão soltando-se com agrura. Ao seu redor, todo o tesouro de Eldorado reluzia com frieza impassível.
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Libertália: Raízes Piratas
Fantasía🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...