☠ XXVI - A batalha se inicia ☠

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O trovão pode ser ouvido de toda a ilha, muito embora seus habitantes não tivessem dado muita importância ao fato inusitado. Estavam ocupados demais com a preparação da batalha para reparar que, aos poucos, Libertália era tomada por uma escuridão profunda e poderosa.

Ignorantes e cegos, eles marchavam para a morte certa. Não fosse pela ânsia de enfrentar seus semelhantes, talvez tivessem percebido que um perigo muito mais sutil e letal os cercava. Talvez tivessem notado como os galhos se retorciam aos seus pés como serpentes famintas enredando suas presas. Notariam talvez um leve tremor no solo, que aos poucos ia abrindo sulcos por entre a terra, criando armadilhas invisíveis por quem passasse por ali. Teriam notado que criaturas estranhas e selvagens os espreitavam das sombras, seus olhos inteligentes brilhando por entre as folhagens. Talvez notassem que uma mancha negra subia lentamente no céu limpo, maculando aquele dia ensolarado de forma irreversível, e também a forma como o mar se agitava sem motivo aparente.

É claro que nada daquilo passou despercebido por Nadine, que caminhava preocupada pela orla da praia, com Eric em seu encalço. Com o coração apertado, ela tentou usar sua conexão com Zaki para alertá-lo, ou talvez chamá-lo até ali. Com a ajuda dele, talvez pudessem retardar o que estava acontecendo na ilha.

Mas assim que apurou sua sensitividade para encontrá-lo, um zumbido enlouquecedor tomou conta de seus ouvidos, paralisando sua magia. Sua visão escureceu e suas pernas bambearam, fazendo-a ajoelhar-se na areia. Tapou as orelhas com as duas mãos com força, em uma tentativa desesperada de barrar aquele som.

— Nadine, o que houve? — a voz abafada de Eric soou como se ele estivesse há quilômetros dali.

Então, assim como o zumbido começou, ele parou. De repente, a imagem que vira antes de seu pai lhe invadiu a mente, fazendo-a pensar na profecia de destruição da ilha. Será que ele não faria nada para impedir daquela vez?

Nadine tirou as mãos das orelhas e conseguiu levantar sem a ajuda de Eric, mas assim que endireitou-se, foi tomada por uma força invisível que a arrastou para frente. O pai teria enfim ouvido suas preces e resolvido guiá-la? Ou alguma outra força desconhecida a impelia?

— Nadine? — tentou Eric de novo, indo atrás da prima sem saber o que fazer para ajudá-la. — Para onde está indo?

— Eu não sei... apenas me siga.

Apesar de ser forçada a seguir por um caminho tortuoso, Nadine sentia em seu íntimo que devia continuar em frente. Ainda que não fosse o pai, àquela altura ela já sabia que nem todas as forças da ilha eram malignas e resolveu confiar em sua intuição.

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James e Haya caminhavam lado a lado, imponentes. James havia dispensado o restante dos homens - agora cercando o que havia restado da vila tomada pelo fogo de sete dias atrás. Ele queria pegar Skyller sozinho, desprevenido, e para isso contava com a astúcia de Haya. Seu plano era brilhante, muito mais ambicioso que o plano inicial de John Fox. Nada poderia dar errado. Em poucas horas, seria o senhor de Libertália e do tesouro de Eldorado.

Ao aproximaram-se dos arredores da vila, Haya tomou a frente, bem familiarizada com o terreno ao qual estivera presa por longos e solitários anos, fazendo-o segui-la de perto enquanto se esgueirava por entre as ruínas e folhagens. Facilmente, encontrou um furo na defesa armada por Skyller e logo estava no território de seu antigo aliado.

Na praça central, encontraram Skyller ainda de pé sobre o patíbulo - local que outrora fora palco das execuções mais sangrentas, - ao lado de Sarah e Louise, enquanto proferia instruções de última hora para os homens que ainda estavam por ali. James pediu passagem para assumir a liderança a partir daquele ponto, e Haya lhe concedeu de bom grado. Ele aguardou até que os últimos homens se afastassem, decidindo então que aquele era o momento de revelar-se enfim.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora