☠ XVII - Convite inesperado ☠

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Voltar para casa deveria ser reconfortante, um alívio, mas tudo o que Elisa conseguia sentir era um nervosismo irritante. Em três semanas, muita coisa poderia ter mudado. Sua família poderia ter se esquecido dela, ou pensar que estava morta. Ela deu uma última olhada para baixo, para suas roupas em frangalhos. Com toda a certeza, sua mãe ficaria histérica ao vê-la naquele estado, mas não havia outra saída, já que sua mochila estava perdida em Libertália e ela não tivera tempo de se arrumar melhor.

Ladeada por Nadine e Oliver, respirou fundo, tomando coragem para enfrentar o que quer que a esperava do outro lado da porta, e apertou a campainha. Os segundos que se passaram arrastaram-se como chumbo. Elisa encarou a porta de madeira, o tapete de boas-vindas aos seus pés e a samambaia balançando suavemente contra a brisa no corredor. A familiaridade do ambiente apertava-lhe o peito. Passou-se uma eternidade até que finalmente ouviu passos arrastando-se do outro lado, aproximando-se da porta. Tentou sorrir para seus amigos, mas tudo o que conseguiu fazer foi uma careta amarela.

Finalmente, quando a volta da chave fez um som oco contra a fechadura, a porta se abriu, revelando sua velha mãe de sempre, vestindo a mesma roupa de três semanas atrás. Tudo parecia exatamente igual, como se Elisa tivesse saído há apenas algumas horas, mas algo em seu rosto a incomodou. Ela estava com olheiras, como se não dormisse há muito. O semblante cansado a envelhecia dez anos, mas a despeito de sua aparência, fitou a filha com um olhar sonhador, como se ela fosse uma miragem que pudesse sumir a um mínimo gesto.

— Elisa... — disse em um fio de voz. — Eles disseram que eu não a veria mais.

Antes que as lágrimas irrompessem por sua face, Elisa avançou, abraçando-a calorosamente e sentindo-a tremer em seus braços, como se fosse feita de papel.

— Claro que não. Quem disse isso?

Elisa afastou-se para olhá-la de perto. Parecia quase tão fraca e cansada quanto ela própria, como se também tivesse sobrevivido a uma aventura mortal em uma ilha mágica.

— A guarda costeira... procuraram tanto por você e Henrique, mas no fim concluíram que deviam ter sofrido algum acidente. Ninguém mais acreditava que fossem ser encontrados com vida.

— Mãe, eu sinto muito... Não queria tê-la preocupado assim, sei que já tem muito para se ocupar, mas agora estou aqui e prometo que não vou sumir nunca mais. — Elisa pegou as mãos dela, afastando-se para o lado para que pudesse ver Nadine e Oliver. — Olhe, eu trouxe esses amigos que me ajudaram em... em Ilhabela. Eles vão passar algum tempo com a gente, tudo bem?

Por um instante, Elisa ficou apreensiva. Se sua mãe começasse a fazer muitas perguntas, não fazia ideia que como iria respondê-las.

Mas ela apenas inclinou a cabeça, lançando-lhes um olhar misto de surpresa e satisfação. O que não era nada típico.

— Elisa, essa é primeira vez que você traz amigos para casa, temos que tratá-los bem. Venham, não fiquem aí parados, entrem!

Enquanto todos se cumprimentavam e se ajeitavam pela sala, Elisa sentiu algo se revirar em seu estômago. Não sabia se a mãe estava agindo de forma tão natural porque estava feliz por tê-la de volta e o fato de ter feito amigos de sua idade era tão surpreendente que ela preferia deixar os detalhes estranhos para lá, ou se aquilo tudo era obra da magia de Nadine. Elisa encarou a garota, mas ela não parecia estar se concentrando nem nada.

Seu irmãozinho, Beto, irrompeu correndo pela sala, pulando em seu colo e fazendo uma festa, feliz da vida em reencontrar a irmã. Oliver observou o menino com espanto. Como pirata, não estava acostumado a explosões de afeto como aquela, mas era tão bom estar em casa de novo que Elisa resolveu deixar para lá. Por mais esquisito que fosse, eles acabariam encontrando um meio de se entender.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora