☠ XIV - Caos e companhia ☠

545 93 275
                                    

Depois da explosão, tudo aconteceu muito rápido. Dentre as folhagens, surgiram dois dos homens de Skyller, que partiram para cima do grupo sem dar chances de sequer pensar no porquê de terem abandonado uma vila cercada que precisaria de sua força máxima para se defender.

Os homens de Fox apararam os primeiros ataques, enquanto Haya afastava Henrique e Elisa com os braços abertos. A luta seguiu intensa, as espadas soltando faíscas ao cruzarem-se em um intrincado jogo de ataque e defesa, até que um dos homens de Skyller pisou em falso, dando abertura para seu adversário transpassá-lo com sua lâmina. O homem gemeu ao cair, mas antes que o pirata vencedor pudesse ajudar seu companheiro, um cipó contorceu-se como uma cobra sobre o seu pé direito, enrolando-se nele e o arrastando floresta adentro. Os gritos de pavor cessaram-se abruptamente, como se algo o tivesse devorado. Sua espada continuava brilhando, suja com o sangue do oponente abatido.

A dupla restante parou de lutar por um instante para olhar em volta, o choque estampado em suas faces. O capanga de Fox começou a tremer, o medo crescendo sobre ele como uma sombra monstruosa. Sem mais se importar com a luta, deixou a espada cair, fugindo em disparada para o setor sul da floresta, o lado oposto de onde o cipó-cobra tinha vindo.

— Gilbert, você não vai querer fazer isso — avisou Haya para o pirata restante, que parecia já ter se recuperado do choque e empunhava a espada de modo ameaçador para os três. — A floresta está se revoltando contra nós, você pode ser o próximo.

Gilbert rosnou para ela.

— Está se revoltando contra a escória que ousou nos atacar — cuspiu ele, apontando com desprezo para o homem caído. — Esses ratos logo terão o que merecem, assim como você, que traiu Skyller.

— Não me faça rir. Você está aqui na floresta, fugiu da luta, assim como eu. Se trai Skyller, você também traiu.

O homem não gostou da comparação, rosnando ainda mais ao arreganhar os dentes podres e amarelos.

— Você já falou demais, mulher. Vou calá-la com a minha lâmina.

Sem tirar os olhos de seu oponente, Haya sacou sua adaga da cintura e a jogou para Elisa com a mão esquerda, enquanto empunhava a espada com a direita.

— Pegue isso e fujam daqui — ordenou ela. — Vão para um lugar seguro, eu os encontrarei depois.

Gilbert continuava a encará-la com uma expressão de zombaria, dando mais um passo à frente. Elisa olhou para a adaga em suas mãos como se fosse uma granada prestes a explodir. Estava muito ciente de que aquela era a mesma arma que havia decepado a cabeça de um homem.

Henrique a puxou pelo braço, a arrastando para longe da luta, o que provavelmente salvou sua vida porque, no mesmo instante, Gilbert atacou e Haya pulou para trás para aparar o golpe. Enquanto era arrastada, Elisa se perguntou se a pirata sobreviveria. Apesar de não se conhecerem muito, ela era sua parente.

— Vamos, Elisa! — chamou a voz de Henrique, com urgência. — Temos que sair daqui, rápido!

A garota tentou se lembrar de como correr, o que era difícil naquela situação. Não estava acostumada a agir sob pressão.

— Sair para onde? — gritou após algum tempo, forçando seus pés a manterem o ritmo.

— Haya disse para irmos a um lugar seguro.

— Isso não existe por aqui.

Guiado pelo barulho do mar, Henrique logo encontrou uma trilha que levava a uma pequena enseada deserta. Ao deixar a floresta, Elisa notou o quanto o sol estava baixo. A ideia de ter perdido mais um dia inteiro presa naquela ilha a fez estremecer.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora