Elisa não sabia o que a assustava mais: a criatura faminta das trevas ou o brilho sinistro nos olhos de Nadine. Seu grito de desespero perdeu-se nas entranhas da floresta enquanto agarrava-se a Henrique e Eric, ambos tentando puxá-la pra cima, para longe dos olhos gigantes amarelos.
Seja lá o que estivesse acontecendo com os olhos de Nadine, aquilo passou para as mãos da garota, que as estendeu em direção à fenda recém aberta. Um lampejo de luz amarela projetou-se através dela, atingindo em cheio os olhos do monstro, que soltou um urro gutural de dor. Ele então congelou em seu trajeto e começou a retroceder, fazendo a terra voltar a tremer. Elisa conseguiu voltar à superfície no exato momento em que a fenda voltava a se fechar, unindo novamente as duas paredes de terra.
A garota rolou para longe, ofegante e cansada pelo esforço, e ao voltar a olhar para o mesmo lugar em que tinha caído, percebeu que não havia mais precipício algum. Era como se a terra nunca tivesse se dividido ao meio. Ela estava louca ou tinha acabado de presenciar a manifestação de algo sobrenatural? Seria possível que a história de Eric fosse real?
— O que foi... aquilo? — conseguiu dizer com a voz entrecortada. Sentada no chão, Elisa tentava recuperar o fôlego.
Eric e Henrique tinham pulado para longe quando a fenda se fechou e tentavam igualmente recuperar-se do susto.
— Uma das criaturas da floresta — respondeu Nadine com voz calma, como se aquilo não fosse nada demais. Ela apoiava-se em um dos troncos, brincando com as mãos de forma despreocupada. Não havia nem sinal do brilho amarelo em seus olhos.
— O que você fez? — arregalou-se Elisa.
— Se queria ser devorada, deveria ter dito logo — rebateu ela enquanto bocejava. — Teria poupado minha magia.
Ela tinha ouvido direito? Magia?
— Ma-magia?
— Nadine é filha de um dos espíritos da floresta, lembra-se? — interveio Eric, sacudindo a roupa após se levantar. — Ela herdou a magia do pai.
— Então você é tipo... — Elisa lutava para entender. — uma bruxa pirata?
Nadine deu de ombros.
— Algo do tipo.
Henrique também já estava de pé e, embora abalado com o perigo recente, a magia de Nadine não o impressionou.
— Temos que dar um jeito de sair daqui — falou ele.
— Tudo que eu queria era voltar pra casa — Ainda sentada, Elisa passou os braços em torno dos joelhos, abraçando-os.
— Uma coisa de cada vez — ponderou Nadine. — Seu amigo tem razão, a primeira coisa que temos que fazer é sair da floresta. O único problema é que ela mudou, não dá mais para saber de que lado viemos.
— Você não pode usar sua magia para nos tirar daqui? — questionou Henrique.
A expressão de Nadine endureceu.
— Não é assim que funciona, a magia é limitada. — Ela olhou em torno da floresta com raiva. Aquela seria uma ótima hora para que seu ausente pai se manifestasse. Mas é claro que ele não faria isso, já tivera tantas oportunidades no passado e em nenhuma delas quis entrar em contato com a filha. Por que dessa vez seria diferente? No entanto, ela podia entrar em contato com alguém. Sua lembrança a fez sorrir. — Mas talvez eu possa usá-la para encontrar Zaki. Ele vai nos ajudar.
— Quem é Zaki? — Henrique arqueou a sobrancelha.
— Uma pessoa... especial. Alguém que compartilha do mesmo dom que o meu. Sempre posso achá-lo quando ele está em contato com a natureza, o que ocorre com muita frequência.
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Libertália: Raízes Piratas
Fantasy🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...