☠ XXX - Queda livre ☠

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A despeito de todo o caos para o qual estavam sendo tragados, Skyller e James prosseguiram com o seu famigerado duelo, as espadas chocando-se em ângulos improváveis devido a ação do vento. Mesmo se alguém tivesse a intenção de intervir, o temporal os açoitava com tamanha agressividade que era praticamente um milagre ambos ainda poderem desferir algum golpe. Essa proeza somente poderia ser explicada se levassem em conta os anos de rivalidade e ódio mútuo acumulado.

O vórtice negro gerado por Zumé continuava a girar, lançando sombras fantasmagóricas sobre o céu e o mar e tragando a ilha para o centro de seu núcleo. Por mais que as embarcações tentassem se afastar, eram atraídos pela mesma força irresistível da ilha. O casco do Revenge tremia perigosamente a cada onda que se chocava contra suas tábuas, encharcando o convés e sua tripulação amedrontada. Alguns dos homens amontoavam-se com as mãos unidas em uma prece desesperada, clamando por suas almas.

Skyller avançava contra James, golpeando pelos flancos, enquanto ele recuava em direção à amurada, aparando todos os golpes que recebia com grande agilidade. Quando se deu conta de que estava acuado, contra-atacou com toda a força de que dispunha, porém tudo o que conseguiu foi um ferimento de raspão no antebraço esquerdo do capitão do Revenge. Skyller ignorou a dor, enxergando a oportunidade perfeita para liquidar seu rival. Em um grito de fúria, cortou com a espada pelo abdômen de James, que a desviou para baixo. A lâmina encontrou a coxa direita do ex-oficial, rasgando a carne em um corte profundo de trinta centímetros.

James dobrou-se de dor, apertando o ferimento com força para estancar o sangue, mas nunca sem desviar os olhos de Skyller. Já podia ver seu sorriso de vitória estampada na face, mas James não estava disposto a render-se. Ele resistiria até o fim.

— Você nunca irá me vencer — cuspiu ele, aparando mais um golpe, ainda que de mau jeito, com a mão livre.

Skyller apenas gargalhou em resposta. Às suas costas, mais um potente trovão fez-se ouvir enquanto um raio rasgava o céu, atingindo em cheio um dos barcos menores. Os berros de horror chegaram abafados enquanto a tripulação abraçava a morte de uma violenta descarga elétrica. Mas Skyller mal os ouvia. Seu mundo agora resumia-se a James, o infame patife, sangrando à sua frente. James, que não perdia a arrogância nem diante da própria morte.

— Os portões do inferno o aguardam.

Quando viu Skyller avançar, James sabia que estava perdido. Somente um golpe de sorte o safaria daquela vez. Ele espremeu suas costas contra a amurada, lutando para permanecer em pé com a perna ferida, quando algo roçou em seu ombro. Em um ato desesperado, estendeu a mão, agarrando-se à corda que havia se soltado do mastro principal com a ventania, impulsionando-se para cima com a perna boa. A espada de Skyller cortou o ar onde um segundo antes o peito de James se encontrava.

— Desista, Skyller! — gritou ele lá de cima, ao se equilibrar em uma das tábuas que agora formavam um esqueleto de velas caídas — Você não é páreo para mim!

Skyller rugiu, despejando todos os tipos de xingamentos e insultos de que conseguia se lembrar. James não poderia contar com a sorte para sempre.

— Nunca!

Skyller procurou por uma corda solta também, lançando-se para cima contra o intenso vento que varria sua face com a água salgada do mar. Deu dois giros completos em torno do mastro, procurando o melhor ângulo para interpelar James, mas a tempestade acabou atirando-o contra a tábua oposta. O capitão sentiu o impacto contra suas entranhas, mas lutou para erguer-se novamente. Sentado na ponta do outro lado da prancha, James lhe exibia um sorriso presunçoso.

— Então, iremos ambos morrer? O que acha, Skyller?

Ignorando o medo, Skyller içou-se de pé, lutando para manter o equilíbrio enquanto caminhava sobre a ponte, a espada em riste, avançando passo a passo em direção a James.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora