☠ XXII - Traição ☠

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— Como ela está?

Elisa finalmente tinha conseguido se recompor e voltado para a cabana malgaxe, onde Zaki cuidava de Nadine com a supervisão de Makanda.

— Ainda inconsciente — suspirou Zaki, sem desgrudar os olhos de sua paciente. — Parece que nada do que fizemos é o bastante.

Ele parecia realmente preocupado, o que era assustador. Elisa aproximou-se do leito, pousando a mão no braço de Nadine. O aspecto da menina era péssimo, como se ela tivesse se desidratado com o feitiço. Sua pele tinha um tom arroxeado, como se ela fosse se desfazer a qualquer momento. Nadine não movia um único músculo e seu coração ainda batia muito lentamente, apenas o suficiente para mantê-la viva.

— Nadine ficará bem. Ela é forte — disse Elisa, em uma tentativa de convencer a si própria.

Nesse momento, Makanda voltou trazendo mais panos embebidos em águas de ervas com um cheiro forte desconhecido. Seu rosto estava sério, em uma expressão indecifrável.

— É o nosso último recurso — declarou ela, trabalhando com os panos sobre o corpo de Nadine. Elisa afastou-se para dar-lhe espaço. — Se isso não funcionar, terei que tomar uma medida drástica.

Elisa notou algumas gotas de suor na testa da feiticeira. Ela e Zaki trocaram um olhar intenso, como se lutassem internamente contra alguma verdade oculta e terrível.

— Medida drástica? — repetiu Elisa, engolindo em seco.

Makanda terminou seu trabalho cuidadosamente, ignorando a pergunta, e quando finalmente ergueu-se, seus olhos cravaram-se nos de Elisa.

— Vejo que algo a perturba. Creio que chegou o momento de termos uma conversa em particular.

— Não quero atrapalhar o tratamento de Nadine.

— Ela precisará de um tempo para que as ervas façam efeito. Além disso, Zaki ficará de olho, certo?

— Claro! — disse ele, soando como se a possibilidade de não ficar de olho em Nadine fosse um insulto.

As duas saíram daquele quarto que cheirava a doença e desilusão, e Makanda a guiou para um quarto menor, repleto de estatuetas e objetos místicos que Elisa sequer podia compreender do que se tratava. O sol penetrava em feixes trêmulos através das cortinas brancas de uma estreita janela, dando ao recinto um ar espectral.

— Então diga, o que a aflige?

Os olhos da feiticeira continuavam pregados aos dela. A aura sobrenatural do lugar era intimidante, mas Elisa conseguiu reunir coragem para falar.

— Eu descobri a verdadeira identidade de Omar. Ele é meu tio-avô que deveria estar morto, mas que de algum jeito conseguiu chegar até aqui e escapar da maldição. Acho que você conhece a história da minha família, William Kidd escreveu sobre o encontro de vocês em Madagascar.

Elisa fez menção de entregar-lhe as páginas do diário, mas Makanda a cortou com um gesto.

— Kidd era um homem teimoso. Mais de uma vez o alertei sobre o sofrimento que poderia trazer para si e aos seus, mas sua ambição o cegou.

— Meu irmão ficou doente pouco antes de eu voltar para cá. Por favor, me diga o que posso fazer para salvá-lo.

Os olhos da feiticeira eram impenetráveis.

— O preço da maldição é muito alto.

— Eu pago. O que for. Qualquer coisa.

— Não é tão simples assim. Tudo começou quando Henry Avery decidiu tomar para si o tesouro sagrado de Eldorado. Seus homens massacraram o povo nativo, o que causou a ira dos deuses. O tesouro tornou-se maldito, e todos aqueles que tentavam usufruir de suas benesses, pereciam.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora