☠ XIX - Resolução ☠

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Elisa não poderia sentir-se pior. Seus olhos estavam inchados de chorar e as pálpebras pesavam como chumbo. Cada músculo do seu corpo doía, como se ela tivesse feito vinte e quatro horas de academia pesada. Seus pensamentos ainda eram uma confusão bizarra que ela tentava esquecer. Seu avô estava morto, apenas isso deveria importar. Rafael e Omar eram problemas pequenos, insignificantes diante de sua perda.

Como uma das últimas pessoas sãs, Nadine tinha preparado o café da manhã, e eles comeram em silêncio. O corpo deveria chegar logo ao velório, mas ainda tinham algum tempo para se recomporem. Elisa deu uma espiada em sua mãe, que parecia uma boneca de trapos, maltratada pelo tempo. Ela queria que houvesse algum jeito de diminuir a sua dor.

Em algum ponto, Beto e Oliver saíram para o quarto para se arrumarem. Eles pareciam quietos demais para dois pestinhas. Elisa arrastou-se para ajudar Nadine a tirar a mesa, mas a garota a segurou pelo braço, encarando-a seriamente.

— Elisa, sei que essa é a pior hora de todas, mas precisamos conversar.

O estômago de Elisa deu um nó. Seria pedir demais ser apenas uma garota normal no dia do enterro do seu avô?

— Se é sobre aquele assunto, eu não quero ouvir...

Ela começou a afastar-se, mas Nadine tomou a sua frente, bloqueando a passagem. Malditos piratas!

— Eu finalmente consegui contactar Zaki ontem à noite. As notícias não são boas.

Elisa sentiu a raiva apoderar-se dela.

— Eu não me importo!

— Por favor, me ouça! Seu avô está morto, mas você ainda pode salvar muitas vidas. Zaki disse que um grupo de piratas se rebelou contra Skyller e Fox, e eles estão vindo para cá nesse exato momento. Nós temos que impedi-los.

— Me inclua fora dessa. Não enfrentarei mais um único pirata. Sinto muito, mas isso é um problema seu...

— Elisa! — Nadine endureceu o tom. — Acha que esses serão os únicos que virão? Oliver está conosco, Skyller virá por ele também. Imagine o caos que será quando todos esses piratas começarem a invadir o seu mundo. Nós temos que levá-los de volta a Libertália.

Elisa fechou os punhos com raiva. O que Nadine estava pensando? Não é como se ela fosse algum tipo de heroína que salvaria o mundo daqueles piratas malvados.

— Você viu o estado da minha mãe. Acha mesmo que existe alguma possibilidade de eu abandoná-la para seguir você de volta para aquela ilha maldita, e acabar presa por mais um mês ou um ano talvez? E quando eu finalmente voltar, quem mais terá morrido? Não, obrigada.

Todo o semblante de Nadine escureceu em uma máscara de profundo desgosto. Provavelmente Elisa a tinha insultado com suas palavras, e ela estaria com medo se fosse em outra ocasião. Mas nas atuais circunstâncias, não ligava para a reação da garota. Nada poderia ser pior do que a dor que sentia.

— Elisa, estou tentando te dizer há algum tempo — disse ela com a respiração pesada. Pela sua expressão, devia estar fazendo um esforço enorme para controlar a raiva. — A profecia, pode ser sobre você. O tempo já se passou, você é uma descendente também, estava lá quando a chave destravou a fronteira. Assim como Henrique, também encontrou raízes profundas na ilha.

— Não. Não é sobre mim, não pode ser. Henrique tem o diário, é a missão dele, não a minha. Por favor, não insista mais.

Nesse momento, a campainha começou a tocar, desencorajando qualquer protesto de Nadine. Elisa estava pensando em quem poderia ser àquela hora da manhã, mas quando abriu a porta, sentiu-se desmoronar mais uma vez.

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora