☠ XXXIII - Santos ☠

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— Está entregue.

Elisa olhou para a fachada de seu prédio. Era incrível que Santos parecesse exatamente a mesma de antes de sua partida. Ao seu lado, Henrique esperava que ela entrasse pela portaria, mas a garota ainda não estava pronta para deixá-lo. Tinha medo do que encontraria do lado de dentro.

— Obrigada por me trazer até aqui — disse ela, tentando ganhar um pouco mais de tempo com ele, já que os dois praticamente atravessaram a cidade a pé e Henrique devia estar cansado e louco para chegar logo em casa.

No entanto, ele abriu um sorriso sincero.

— Sem problemas. Era o mínimo que eu podia fazer depois de tê-la arrastado comigo pra essa confusão toda.

— Acho que eu não tinha como escapar. Mas estou feliz por eles. Por todos eles. Principalmente por Haya e Simon, que finalmente poderão viver o seu amor em paz.

O sorriso de Henrique murchou e ele desviou o olhar para a esquina. Um cachorro revirava a lata de lixo como se esperasse encontrar um banquete ali dentro.

— Sim, eu também.

Elisa se arrependeu de ter dito na mesma hora, porque de repente percebeu que Henrique ainda não tinha superado a morte de John Fox. Ele remexeu em sua jaqueta preta preparando-se para ir embora, mas Elisa não podia permitir que ele partisse. Não ainda.

— Acho que vou doar meus livros do John Green — disse, não fazendo a menor ideia de onde aquilo tinha saído. Talvez estivesse apenas enrolando.

— Por que?

Henrique voltou a encará-la com uma expressão de surpresa e espanto. Por algum motivo, ela sentiu as bochechas corarem.

— Bem, acho que preciso de livros novos depois de tudo o que passamos. Você sabe, algo mais hardcore. Talvez As Crônicas de Gelo e Fogo.

Ele começou a rir e ela aproveitou para aproximar-se dele.

— Elisa, só você para usar uma experiência quase mortal em uma ilha mágica cheia de piratas sanguinários para mudar o seu gosto literário.

Os dois riram juntos. Estavam muito próximos agora e Elisa podia ver a pinta sob o lábio inferior dele. De repente se deu conta de que não sabia se ele gostava de ler. Na verdade, não sabia quase nada sobre Henrique, apenas que era descendente de piratas, vivia em um apartamento apertado com os tios e sonhava em cursar medicina. Olhando-o tão de perto, ela teve vontade de conhecê-lo mais, de perguntar tudo sobre a vida do garoto e ficar ali com ele por horas, ouvindo suas histórias.

— Quando você começou a gostar de mim?

A pergunta o pegou completamente desprevenido. Ele enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e olhou para baixo, todo sem graça. Elisa sorriu, mas não de um jeito degradante. Ele ficava bonitinho quando estava com vergonha.

— Ahn... de onde veio isso?

— Sei lá, talvez eu esteja tentando te conhecer melhor? Você sabe, para ver se vale a pena...

Elisa definitivamente não sabia de onde aquilo tudo estava vindo. Mas seu coração batia acelerado e ela decidiu que não podia desperdiçar a onda de confiança e autoestima que a invadia, então sustentou o olhar de Henrique.

— Eu não sei? — ele disse como uma pergunta, porque tudo naquela garota o confundia. — Acho que foi quando nos escondemos atrás do balcão de Thomas e eu pude observá-la melhor. Você estava tão assustada, e eu pensei "tenho que proteger essa garota", mas depois vi que você não precisava de proteção nenhuma e eu era só um bobo apaixonado. Não acredito que disse isso em voz alta...

Libertália: Raízes PiratasOnde histórias criam vida. Descubra agora