Skyller tinha levado o que restou de suas forças para o forte, a única construção que permaneceu inteira após o incêndio. Ordenou que todos se abrigassem ali, enquanto um grupo pequeno fora mandado para retirar os corpos da praia e averiguar o estrago causado pelas chamas. Uma central de emergências havia sido montada às pressas no pavilhão central para cuidar dos feridos, liderada por Louise e Sarah, que não gostou muito de sua nova designação. Para o bem de todos, James Blythe fora mandado de volta ao acampamento por Fox, em busca de provisões que por ventura o fogo houvesse poupado. O momento era de união, então estabeleceram um pacto de ajuda mútua enquanto a trégua perdurasse.
Sob a luz de uma lua de chumbo, recortada por um véu negro tóxico de fumaça, os dois líderes piratas conversavam em um dos baluartes do forte. Silencioso, Zaki aguardava pela resolução da conferência em um dos cantos. Skyller não permitiu que ele saísse de seu lado enquanto não explicasse tudo o que sabia sobre a localização de Oliver, tendo mandado Eric em seu lugar para buscar o povo malgaxe.
— Então este lugar foi batizado com o meu nome? — dizia Fox ao andar de um lado a outro do baluarte, o rosto contraído, as mãos atrás das costas. — Imagino o quanto deva ter rido às minhas custas esse tempo todo.
— O nome foi uma homenagem — apressou-se Skyller em explicar. — Pela memória de nossa antiga aliança. Eu sempre fiz questão de ressaltar o grande pirata que você foi, sua liderança justa e firme.
Fox riu, um riso de escárnio que perdeu-se entre a névoa envenenada.
— Mesmo que seja verdade, Skyller, o pacto que firmamos não significa que desisti da guerra. Quando os sete dias terminarem, tudo volta ao normal. Nós lutamos, eu venço. Libertália é minha.
Skyller sorriu com tristeza do outro lado do baluarte.
— Você sempre foi um homem de palavra, o que eu admiro, mas em Libertália as coisas são um pouco mais complicadas. Você e seus homens já estão aqui há bastante tempo, devem ter percebido o quanto a ilha pode ser... traiçoeira. Há coisas que acontecem aqui que simplesmente não podem ser explicadas. Este incêndio foi apenas mais uma delas.
— E, no entanto, apesar de tudo, você permaneceu no comando por todo esse tempo. Seria sorte? Eu duvido — Fox fez um gesto amplo com as mãos, um sorriso maroto brincando em seus lábios. — Eu sei sobre o tesouro, Skyller. O tesouro de Avery, o tesouro de Eldorado. O tesouro pelo qual William Kidd enlouqueceu. Ele é a chave, não é? É por isso que está aqui. É por isso que se arrisca tanto, que coloca seus homens em perigo dia após dia, para mantê-lo sob sua guarda.
— Eu vim para cá para libertar Louise das garras de Garret. Mas se está pensando em tomar o tesouro para si, tome cuidado, ele é amaldiçoado. Coisas ruins... coisas muito ruins acontecem com quem tenta se apossar dele. Três homens, foi tudo o que restou a Avery.
— Eu não sou Avery, nem tampouco você. No momento certo, o tesouro virá para as minhas mãos — ele disse como se houvesse alguma carta escondida na manga. — Mas antes que esse momento possa chegar, quero saber quais são seus planos por agora. O que significa aquela conversa do garoto sobre ampulheta e fronteira?
Zaki trocou um olhar nervoso com Skyller, mas este o tranquilizou com um aceno de cabeça.
— Tudo bem, eu vou explicar.
Fox ouviu atentamente toda a história de Skyller sobre os malgaxe e tudo que acontecera na ilha desde que chegaram. Quando terminou, ele o encarava, incrédulo.
— Então quer dizer que agora a magia está desfeita? Se o tempo voltou mesmo a correr, não há nada mais que nos prenda aqui.
— Sim, mas deixar a ilha seria muito perigoso. Muito tempo se passou, não sabemos como o mundo está lá fora. É por isso que temos que planejar nossos próximos passos com muita cautela.
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Libertália: Raízes Piratas
Fantasy🥇 1° lugar em ficção científica e geral no concurso Trick or Treat 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Pequenos Girassóis 🥇 1° lugar em fantasia no concurso Mistérios da Índia do D&T 🥇 1º lugar em fantasia no concurso Deuses Gregos 🥇 1º lugar em...