Capítulo 32

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*AMANDA*
Seguimos andando para a biblioteca em um silêncio que já está me incomodando.
- O que você quer mudar em você? – Léo pergunta, fazendo-me arquear uma das sobrancelhas.
Essa é uma pergunta que eu realmente não sei nem por onde começar.
- Sabe que eu não sei... – sorrio de soslaio.
Um estrondo vem do corredor a nossa esquerda, nos afastando da conversa.
Ele me olha com uma expressão curiosa.
Passo por ele e vou em direção "da coisa desconhecida".
Percebo que a luz da janela da sala de química reflete no chão do corredor, com duas sombras, uma um pouco mais alta que a outra.
Aproximo-me com os passos tão leves que eu mal consigo ouvir.
- AAAAAAH! – Dou um grito assim que vejo a sala por inteira.
- Meu Deus! – Léo exclama do meu lado.
Começo a rir de nervoso. Léo está tão nervoso quanto eu.
- Cala a boca Amanda! Quer me matar de susto? – Érick reclama com a boca levemente rosada.
A pessoa de cabelos escuros longos que está virada de costas para a porta, encontra meu olhar rapidamente. E adivinhem!! ELA TAMBÉM ESTAVA COM A BOCA BORRADAA!!
- Aff, sua ridícula! Não faz isso que eu sou cardíaca! – Rubi coloca a mão no coração encostando no armário lotado de vidrarias.
Ela passa os dedos nos lábios, em um ato nervoso, com as bochechas de sua pele amorenada, um pouco vermelhas.
- Fazendo coisa errada né Dona Rubi... – pisco para o Érick que por incrível que pareça, dá um sorriso envergonhado.
- Claro que não! O Érick só estava... – ela tenta arranjar uma explicação e inconscientemente olha para ele pedindo socorro. – Entrou uma coisa no meu... olho! Isso! Entrou uma coisa no meu olho, e esse bom moço só estava tentando me ajudar! – Ela sorri amarelo.
- Te ajudar a não ficar mais sem os beijos dele, né? – Léo dá um sorriso provocante enquanto se apoia no batente da porta.
- Que bonito hein?
- É verdade – Érick finalmente se manifesta e percebo um leve, bem leve relaxamento dos músculos de Rubi. – E ainda acho que não saiu.
- Na verdade, eu acho que saiu sim! Não estou sentindo mais nada – ela pisca bem forte.
- Certeza? – Ele se aproxima, a prendendo entre o armário e ele. – Deixe-me ver... – ele encosta seus lábios nos dela, arrancando-a um selinho, fazendo-me instantaneamente olhar para o Léo com um sorriso – Pronto! – ele responde com um sorrindo. – Agora eu acho que tirei!
Não consigo me segurar e acabo gritando de novo, o que faz com que o Léo tape a minha boca com a sua mão, nos afastando da sala, deixando-os a sós, só me soltando à poucos armários da porta em que estávamos.
Olho-o com um sorriso enorme nos lábios.
- Você viu a mesma coisa que eu? – Ele assente – O MEU OTP!!!
- Pois é... – ele sorri com a minha animação.
- Romance fora dos livros, hein? Quem diria que isso ia acontecer?
- Você nunca pensou que isso já aconteceu?
Me perco viajando em cenas de romance, principalmente com a que tinha acabado de acontecer. COM A MINHA MELHOR AMIGA. Se bobear, eu estou surtando mais que ela.
Quer apostar quanto, que quando eu for perguntar como foi, ela vai responder: "Mas foi só um beijo, nada demais!"?
- Amanda... – Léo passa a mão em frente aos meus olhos.
- Desculpa, eu não ouvi.
- Jura? – Ele ri. – Você nunca passou por uma cena de um livro seu?
- Sabe... – vejo pelo canto de olho que eles saíram da sala. – Depois eu te respondo! EDI!!
- O que? – Érick pergunta.
- Emergência de irmãs! – Puxo a Rubi, e sem dar explicações começo a correr.
- Pelo menos a Amanda antiga respondia as minhas perguntas! – Ele grita rindo.
Rubi me olha de canto de olho contendo um sorriso.
Abro a porta do banheiro e cruzo meus braços me apoiando na pia.
- O que foi? – Ela tenta conter sorriso e suas bochechas levemente coradas.
- CARAAA, COMO ASSIM? O QUE FOI AQUELE BEIJO? OU MELHOR AQUELES BEIJOS!!
- Não foi nada demais... – "Falei."
- Nem vem. Pode devolver a minha amiga, porque essa menina que está na minha frente não é a Rubi que estava louca para beijar o crush – a interrompo.
- Não estava louca – ela cruza os braços, me fazendo arquear as sobrancelhas. – Tá bom. Eu estava um pouquinho! – Ela dá de ombros.
Corro para abraça-la.
- Miga você está de TPM? – Ela começa a rir depois de um tempo.
- Não, por que? – Respondo rindo.
- Você está muito feliz!
- Eu sei, ando feliz. Se bem, que umas horas atrás eu estava quase chorando, então eu talvez eu esteja – começamos a rir. – E aí, o beijo foi bom?
- Muitooo – ela se apoia na pia. – Acho que eu nunca tinha beijado alguém com um beijo assim!
- Aah, que fofa!! Você está apaixonadinha!
- Nem vem Amanda!
- Será que não?
- Você é louca, não é possível!
- Ah, já sei disso faz 16 anos!
Eu acho que nunca estive tão feliz como estou agora! A minha irmã está muito feliz, o que me faz ficar também.
O engraçado, é que ela finge não estar, tentando esconder o sorriso, como se aquilo que acabou de acontecer não foi nada. Acho que esse é um dos defeitos da Rubi, ela vive escondendo se está feliz demais, talvez ela tenha medo de se machucar se ficar demonstrando.
- O que foi? – Pergunto assim que percebo que ela está me encarando.
- Por que o Léo falou que pelo menos a Amanda de antigamente respondia ele? "Amanda de antigamente"?
- Pois é, eu cansei de quem eu era. A partir de hoje, eu sou uma Amanda mais mudada.
- Nossa, que poderosa você! – Nós rimos. – O que você vai mudar?
- Quase tudo. Bom, quer dizer, eu não quero mais me importar com o que as pessoas vão pensar de mim e também eu não quero pensar tanto nas consequências, quem sabe ser mais impulsiva, mas ainda vou ficar com minha essência.
- Uau! – Ela começa a aplaudir. – Eu apoio essa Amanda nova, e eu vou te ajudar no que precisar! – Ela me abraça.
- Eu te amo tanto miga! – Abraço-a mais apertado.
- Eu também!
- Você é uma das coisas que eu NUNCA vou mudar na minha vida! – Afasto um pouco meu rosto para observá-la.
- AAH, assim eu choro!
- Só vou te trocar se você me abandonar para ficar com o Érick! – Ela se solta me encarando.
- Até parece! Amizade acima de qualquer menino, sempre!
- Sempre! – Abraço-a novamente.
- OK, você definitivamente está de TPM, você já me abraçou duas vezes! DUAS!
- Poxa você estragou o nosso momento fofo!
O sinal toca. A detenção acabou! Graças à Deus!
- Esperava mais de você! – Saio rindo.
Érick está apoiado nos armários.
- Nossa, você estava nos esperando. Com "nos", me refiro a Rubi.
- Amanda não enche! Foi só um beijo.
- UM? Eu vi pelo menos dois – rimos, e percebemos que Rubi saiu do banheiro. – Olha Rubi, ainda bem que você chegou! Eu já não aguentava mais ele ficar falando que você é o amor da vida dele.
- Amanda! – Érick diz entredentes já corado.
- Rubi olha... – ela o interrompe antes que ele tente se explicar.
- Relaxa, eu sei que não é verdade – ele tranquiliza.
"Ela não sabe nem brincar."
Vamos em direção a porta de entrada da escola.
- Olha, já vou avisando que eu vou ser a madrinha de casamento – comento, deixando os dois envergonhados. – Só estou falando isso para ninguém querer roubar o meu lugar.
- Isso se eu não for antes no seu casamento com o Léo! – Érick diz.
- Ei, não esquece de mim!
- Até parece, eu e o ... – abrimos a porta e vejo ele encostado no capô do carro preto de seu pai conversando com uma ruiva. – Quem é ela?
Percebo que Érick e a Rubi se entreolham como se quisessem me contar algo, mas não sabiam como.
- Falam logo....
- Ela foi uma namorada do Léo – Rubi bate no braço do Érick assim que ele termina a frase. – Quer dizer, ela não chegou a ser uma namorada, foi quase...
- Na verdade foi um grande mal-entendido.
- Você sabia Rubi? – Pergunto incrédula.
- Sabia – ela diz baixo.
- Quer saber – dou um grande e demorado suspiro – tudo bem. Quer dizer, eu e ele não temos nada demais, só aconteceram uns beijos.
- Mandy, desculpa, eu não quis... – Érick começa a se desculpar.
- Tudo bem Érick, mesmo, só vamos logo embora.
Começo a andar em direção a eles, com a cara mais amigável que eu conseguisse.
Afinal, eu nem precisava ter ciúmes, eu e ele não temos nada; e outra, se ele quiser ficar com ela, o que eu tenho com isso?
- Oi – sorrio.
- Ah, oi – Léo percebe que já sei quem ela é.
- Prazer, eu sou a Emma! – Ela estende a mão para mim.
- Prazer, Amanda – nos cumprimentamos.
- Eu ouvi muito sobre você – ela sorri.
- Infelizmente eu não posso dizer o mesmo – olho na direção do Léo.
- Oi, prazer, Rubi – ela tenta cortar o clima tenso entre a gente.
- Prazer, Emma – elas dão as mãos. – E aí Érick! – Ela o abraça.
- Bom gente, eu acho que já vou indo – começo a me despedir.
- Deixa que eu te dou uma carona – Léo pede.
Avalio por questões de segundos, afinal, eu estava cansada e acho que seria uma boa oportunidade.
- Não precisa, eu vou andando – sorrio de lado.
- Certeza?
- Claro! Tchau gente.
- Espera aí, eu vou com você – Rubi pede.
- Não, não precisa.
Vou andando, fazendo eles ficarem cada vez mais longe de mim.

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