Visitar o orfanato de Janusz Korczak foi uma das minhas experiências preferidas da Polônia. Eu consegui realmente me sentir bastante acolhida naquele lugar, ao contrário do que senti em muitos outros naquele país.
Eu sempre tive um olhar curioso voltado para a Educação, porque vejo ela como a base que constrói a sociedade- quanto melhor ela, mais 'avançado' o país. Então passar por lá fez eu me sentir muito conectada a estas raízes.
A ideia dele de que os jovens devem ter poder de voz simplesmente me inspira demais, por quebrar e desafiar antigos preceitos que presumiam que apenas o adulto deveria ter este direito. A criança/adolescente que recebe atenção, vez e tem seus direitos respeitados, claramente tende, ao meu ver, a se dedicar com maior afinco àquilo que lhe é proposto.
A guia que nos acompanhava chegou a pedir que refletíssemos sobre a "santidade" do homem por um episódio em que ele traficou um pedaço de pão para o gueto e o devorou, sozinho. Preciso dizer que ainda assim o vejo como um herói. Janusz não só curou crianças fisicamente,oferecendo-lhes abrigo, alimentação e cuidados médicos, mas, também, tratou da parte emocional de cada uma delas- para que saíssem de lá com boas condições de se desenvolverem intelectualmente. Foi com elas até o Gueto de Varsóvia,insistiu mesmo naquelas condições a investir na educação delas, que tinham um futuro tão incerto. As doenças que o atingiram não foram o suficiente para que ele largasse suas metas e objetivos, e muito menos os obstáculos que surgiam e oportunidades que brotavam a seu favor para que pudesse se livrar do gueto. Ele marchou junto às crianças até Treblinka, e morreram todos asfixiados em uma terrível câmara de gás.
Janusz foi luz. Numa situação de guerra como aquela, muitos teriam virado as costas. Pensado apenas em seu bem-estar e sobrevivência. Mas ele foi além. E me provou que é possível plantar sementes de esperança, não importa o quão escuro esteja por perto.
