Iad Vashem

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Assim que deixamos o Museu do Livro, fomos ao Iad Vashem. As expectativas eram grandes, aliás, era a última parte da viagem que teria foco no Holocausto e nos faria repensar no que vivemos na Polônia. Eu pensei, assim como outros amigos meus, que iríamos passear por ele todo, mas nos disseram que íamos apenas passar por algumas árvores de Justos do Holocausto e conhecer o que era exatamente um alojamento Partizan, por já termos passado pela Polônia antes. Isso me deixou triste, além do mais porque já tinha ouvido muito sobre aquele museu e não esperava passar pelo lado externo dele.

Os Justos entre as Nações são pessoas não judias que ajudaram judeus ameaçados de morte durante a Segunda Guerra Mundial. Para receber esse título, a pessoa deveria ter se envolvido na salvação de um ou mais judeus que se encontrassem em perigo; ter colocado a si próprio em perigo; ter sido motivado por pura intenção de ajudar os judeus e, claro, existir algum testemunho daqueles que foram ajudados ou documentação inequívoca que prove o acontecimento.

Não foi chato escutar a história de alguns justos, até porque acho importante honrar aqueles que colocaram suas próprias vidas em risco para salvar ameaçados do Estado, mas acabamos por gastar o mesmo tempo que usaríamos para rodar o Museu inteiro, então isso me coloca a pensar no conceito de otimizar tempo das guias.

Quanto ao alojamento Partizan, não me arrependo. Eu não seria capaz de imaginar algo do tipo, e adorei adentrar um, mesmo com a pequenez dele.

Antes de irmos embora, fomos à uma sala escura que contava um pouco da história das crianças que morreram na Segunda Guerra. A ideia daquela sala é que você siga andando em direção à luz enquanto ouve o som que está tocando ao fundo.

Ninguém me disse isso, e talvez este nem seja o propósito do memorial, mas quando me peguei pensando na ideia de ir para a luz, apenas consegui traçar uma linha metafórica.

Tudo o que aquelas crianças tinham foi tirado delas. A luz do sol foi substituída por trevas, o amanhã por um 'talvez nunca mais', e a brincadeira pelo desespero. Não seria justo passar por elas podendo enxergar bem, porque é necessário ter empatia pela dor do próximo. Precisamos nos esforçar, especialmente para compreender uma realidade tão distante da nossa, e devemos nos deixar leves para que possamos suceder na estrada. Os brilhos da sala seriam como pequenas estrelas- talvez, quem sabe, as próprias crianças?- e nossos guias certeiros para conduzir a vida de uma maneira sábia. Devemos sempre caminhar em direção à luz, no fim das contas, mas nunca esquecer das estrelas que nos iluminam nas noites mais serenas.

Às vezes eu me pergunto o que me faz ter estes delírios interpretativos, às vezes não. É mais fácil aceitar que fui projetada assim, mas chega a ser engraçado pensar em certas viagens que meu cérebro faz.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora