A tenda beduína

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Passeio de Camelo

Fomos, então, a caminho da Tenda Beduína, para o nada esperado passeio de camelo. Como precisei ir ao banheiro chegando lá, eu acabei por perder a primeira leva do passeio, e tentei usar isso a meu favor para não ter que fazê-lo.

Mal sabia eu que haveria uma segunda leva. Claramente fiz de tudo para desviar. Fiz de tudo para não colocar aquele capacete. Fiz de tudo para não subir no camelo.

Quando chegou a hora, resolvi que iria só tentar subir, para depois descer alegando que aquilo não era para mim. Eu cheguei a pedir ajuda para o beduíno que iria conduzir os camelos para subir no animal, mesmo estando o animal deitado, porque eu estava com dificuldade, e o homem me olhou torto, como se eu estivesse pedindo algo de outro mundo.

A próxima coisa de que me lembro é que o coordenador que estava nos acompanhando subiu no mesmo camelo que eu- uma vez que cada um levava duas pessoas- mas eu certamente não me lembro de tê-lo chamado para subir. Mas até aí tudo bem.

Quando você sobe no camelo, ele está deitado. Mas assim que esse recebe o sinal de que o passeio está prestes a começar, ele se levanta com as patas traseiras e depois as dianteiras. Você sente que vai cair. E não. Não é drama. Qualquer um te confirma isso, caso não acredite.

Eu provavelmente gastei todo o meu vocabulário chulo durante a subida. O que não faltou foi dizer para a minha dupla de camelo que eu iria bater nele quando descêssemos de lá. Mas foi péssimo pensar na descida, ainda mais porque fizeram questão de me lembrar que ela era a pior parte.

Não acredito que estou admitindo isto, mas até que foi bom. Eu não teria dito isso a câmera dele, nas incessantes tentativas de me filmar, nem quando descemos e ele queria escutar um simples 'amei'. Por uma questão de orgulho? Confesso que talvez.

A única coisa que machucou muito o meu coração foi uma consequência da desobediência do camelo em que eu estava. Ele não queria se deitar com o fim do passeio, e o beduíno ameaçou bater nele por isso- mais de uma vez- e caiu em mim de novo essa realidade da crueldade do ser humano. O que nos serve de entretenimento acaba por causar dor extrema e sofrimento ao outro...

As boas-vindas dos beduínos

Logo depois do passeio de camelo, entramos todos em uma tenda do lugar para ouvirmos às boas-vindas dos beduínos. Eu já tinha escutado sobre essa ocasião por alto. Iriam tentar nos oferecer um chá e um café- muito ruins- e depois seguiríamos para a próxima atividade.

Eu ainda estava a mil por causa do passeio, mas lembro bem que havia um beduíno contando sua história com um tradutor do lado. Eu fiquei surpresa com certos costumes deles- mas acho que isso é meio natural para o ser humano, tudo que é novo e/ou diferente acaba por causar desconforto ou estranhamento.

Durante seu discurso, um outro beduíno ia passando com uma grande bandeja cheia de copos de chá. Eu queria prová-lo, mesmo com as recomendações, porque considerei uma boa maneira de me conectar com uma cultura diferente. Assim que ele passou por mim, peguei um copo de sua bandeja- até porque é considerado falta de educação por eles recusar esse agrado- e agradeci.

Eu nunca fui fã de chá, mas aquele realmente se superou em níveis de ruindade. Eu não queria ter que devolver aquele copo cheio, então acabei dando-o a uma das poucas amigas que tinha gostado, e pude devolvê-lo já vazio.

Quando começou a vir o café, um ar de otimismo tomou conta do meu corpo. Eu tinha certeza de que ele iria tirar o gosto ruim que já estava impregnado em meu hálito, mas, por uma péssima sorte, os copos da bandeja acabaram logo quando o beduíno parou ao meu lado. Depois me dei conta de que não cheguei a tomar um gole de café na Marcha, e isso me surpreende bastante, porque eu sou bastante viciada e mal me aguento em pé sem.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora