Kikar Safrá

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Logo no café da manhã, nos avisaram que só voltaríamos ao hotel bem de noite, então não deveríamos lotar a mochila com pertences desnecessários, já que eles claramente iriam começar a pesar depois de um tempo. Nada que os dias anteriores não tivessem provado ainda, então deixei a mochila bem leve, de modo que pensei que não estava prestes a enfrentar uma dor profunda- e o início do meu processo de mal-estar oficializado.

Tivemos que almoçar bem cedo naquele dia devido à Marcha de Israel, e o fizemos em uma praça bastante agradável. A fome era praticamente inexistente, uma vez que não havíamos tomado café há mais de duas horas, mas todos sabiam que um dia longo estava por vir e que era necessário reservar energias.

Muitas delegações estavam pela praça também, então desde antes da Marcha de fato começar, já estávamos novamente nos familiarizando.

Eu não sei dizer onde a Marcha de fato começou, porque paramos para assistir a um pequeno show antes, mas tomando esta apresentação como referência, tive uma conversa bastante filosófica no caminho dela com um amigo. Não me lembro como ela surgiu, mas acabamos por discutir a natureza do ser humano- a maldade é inata ou o tempo e as experiências pelas quais passamos fazem florescer em nós este sentimento negativo?

Não procurávamos citar pensadores, apenas pensar a respeito de um tema tão complexo. Chegamos ao ponto de pensar em certas experiências que nos ajudavam a sustentar nossos argumentos, e foi uma boa descontraída para o que viria e para a longa caminhada.

Considero a capacidade do ser humano de pensar criticamente uma de suas maiores virtudes. Às vezes não consigo entender o porquê de, na atualidade, olharem para a Filosofia como se ela fosse uma disciplina morta, até porque ela se faz mais presente do que se pode imaginar. Além de que foram com essas ideias críticas que começaram a surgir as bases de certas áreas do conhecimento, que hoje nos são tão importantes, como a Matemática, a Biologia, a Psicologia, a Física, entre outras.

Eu gosto muito de entrar nesses "papos-cabeça", mas é difícil encontrar gente que se interesse. Boa parte das vezes, você acaba sendo julgada como desentendida, maluca, ou,até mesmo, um alguém em necessidade de encontrar na vida questões mais tangíveis. O mesmo com a leitura e a escrita. Mas a real questão é que nem sempre se pensa para chegar a uma resposta exata. Às vezes, a graça está exatamente no fato de que nunca seremos capazes de chegar na essência pura desses questionamentos, não importa o quanto tentemos. Às vezes a graça é debruçar-se sobre o mistério, mesmo sabendo que ele não está prestes a revelar seus maiores segredos. A real beleza da vida acaba se encontrando nesses minutos de observação e contemplação da imensidão na qual fomos inseridos-porque, cá entre nós, não passamos de poeira estelar. 

O show em si

Eu estaria mentindo se dissesse que aquela apresentação não me surpreendeu. Tudo em Israel terminava numa alegria intensa, e não foi diferente naquele dia. Todos estavam animados com a ideia de tanta união e ansiosos para seguirem trocando as blusas das delegações.

Aquele show acabou por marcar a vida de uns mais do que de outros, mas por motivos que talvez não devam ser apresentados aqui... Afinal, parte do que acontece na Marcha,deve ficar na Marcha.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora