Primeiras sensações de Israel

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Atualmente, diz-se com bastante frequência que existem três modos de se conectar ao judaísmo: por meio da comunidade, do culto religioso ou da cultura.

Apesar de muitos não terem conhecimento disto, a comunidade judaica é uma muito unida. Não compartilha-se apenas a fé, o convívio é forte e o apoio é extremo- vai muito além das fronteiras de Israel. Contamos no Brasil, por exemplo, com escolas judaicas, sinagogas, memoriais, cemitérios e movimentos juvenis- cada um carregando a religião de maneira distinta e única.

O culto religioso não diz respeito apenas à leitura do Livro Sagrado, a Torá, mas também aos principais ensinamentos e valores citados lá e propagados ao longo dos séculos.

Já na questão cultural, enxerga-se tanto o lado comemorativo, ou seja, celebração de festas judaicas, como o conhecimento das rotas já traçadas por judeus.

Eu nunca fui uma pessoa muito ligada à questão religiosa, e sinto que este lado meu decresce a cada dia. Não que eu a negue, porque, muito pelo contrário, não faço isso, apenas não consigo encontrar sentido lógico em seguir todos os valores. Gosto de ter a possibilidade de avaliar os meus próprios também e decidir o que é certo e o que é errado. Isso não anula, entretanto o meu respeito por aqueles que escolhem seguir todos os passos da religião, seja por uma questão de tradição ou por acolhimento- afinal, devemos cada um seguir aquilo que acreditamos estar mais perto de nós.

Minha conexão é mais firme quando avaliados os quesitos culturais e da comunidade, sendo que esta última grita mais alto no meu interior. Minha família comemora as principais festas e recita as principais rezas, então seria basicamente impossível não criar um vínculo com todo este aspecto. É mais do que uma tradição saber que boa parte da família se reunirá para celebrar o ano novo judaico, a libertação dos judeus do Egito, e, às vezes, até o Shabat. E não há um sentimento negativo com a aproximação dessas datas.

Já na questão da comunidade, eu sempre estudei em escola judaica. Convivo desde pequena com amigos que carregam um passado similar ao meu, e me sinto bastante confortável quando neste meio, apesar de não escolher minhas amizades a dedo por questões de fé. Ser amigo é saber interpretar olhares, entender silêncios e saber apoiar o próximo na alegria e na tristeza. E essas características não são pautadas segundo a fé ou o Deus que elas escolhem seguir. Tenho amigos de fora da comunidade também, e isso não afeta o carinho que sinto por aqueles com quem convivo praticamente todos os dias.

E exatamente por esta falta de vínculo religioso, eu não pensava que iria gostar de Israel. Eu resumia o país a pessoas muito religiosas que viviam da fé, mas, depois da Marcha, percebi o quanto eu estava errada. É claro que a questão religiosa é bem nítida, mas não foi o que mais me chamou atenção. Até mesmo em Jerusalém, considerada pelos judeus como o centro judaico, consegui me ver em situações bem distantes da realidade religiosa.

Israel é um lugar que acolhe. Eu não esperava escrever ou fazer uma confissão dessas algum dia, mas, sim, é isso. Eu me senti em casa naquele país, e é muito gratificante saber que caso algum dia eu sinta a vontade, posso me mudar para lá. Serei aceita de braços abertos.

Eu nunca conheci um lugar tão plural como aquele, e sinto saudade todos os dias do que vivi por lá. Digo com frequência que a Marcha foi a minha maior antítese, e isso não poderia ser mais verdade. Pude desfrutar do gosto maravilhoso de conhecer aquela Terra depois de ter passado tão perto da morte, e isso deu a toda experiência uma sensação muito tranquilizadora. Se antes eu não via sentido na ida à Israel...bem, você, leitor, pode ter certeza de que depois da viagem eu passei a entender. Nada mais belo- e por parte poético- do que ver a resistência e a sobrevivência de tantos valores mesmo depois de toda a destruição que resultou deles.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora