A Marcha da Vida- Polônia

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Marchar de Auschwitz até Birkenau foi uma das experiências mais lindas e dolorosas que eu já tive. Eram 2/3km, estávamos em um dia quente. Aqueles que percorreram aquele caminho no passado, o fizeram no frio. Estavam subnutridos. O destino era Birkenau, o destino era, muito possivelmente, a morte. Eu e mais 13.000 pessoas (acredito que o número esteja arredondado) marchamos em homenagem aos que morreram, aos que não tiveram força o suficiente para completar o trajeto da Marcha da Morte. Por isso que foi lindo. Ver tanta gente unida por um mesmo propósito, tão nobre.

Agora, cansativo porque o sol estava de lascar. Minha mochila pesava nos meus ombros, minha coluna já sentia seus problemas surgindo. Fiquei tonta durante o percurso, e comentei isso com uma amiga. Ela me ofereceu água, mas eu estava sempre com o estoque ok em questão de bebida. Segui tonta, porque queria completar com dignidade. No passado, parar não era opção. Parar era morte certeira, tiro na hora.

Fiquei muito feliz quando terminei o percurso. Cheguei de pé, e coloquei muito alegremente minha plaquinha nos trilhos de trem que levavam a Birkenau. Nós resistimos.

O início da Marcha foi marcado pela famosa indicação 'Arbeit Macht Frei' – o trabalho liberta, com o 'B' ao contrário. O trabalho, de fato, não libertava. Ele levava à morte. Mas o meu ato de marchar provou apenas que os anos e as sementes que brotam no pós-Guerra libertam. E assim, vivem a vida honrando todos aqueles que a perderam, por uma lógica doente. 

A plaquinha que marca o fim da Marcha

Nós, que vamos na Marcha, recebemos uma placa de madeira com o símbolo da Marcha da Vida onde podemos escrever uma mensagem, para deixar nos trilhos que levavam à Birkenau. As pessoas geralmente escrevem frases famosas relacionadas a Segunda Guerra, ou criam suas próprias. Alguns apenas deixam registrado quem estão honrando ao marchar, outros, apenas deixam seus nomes e nacionalidade.

Eu escrevi uma mensagem autoral, em Inglês, por uma questão de querer ser entendida por possíveis leitores dela:

"They tried to destroy our people, but they had forgotten the most important thing. Once you build up walls and leave scars, people start growing the ideia of climbing these walls and healing all scars. Until there's nothing but a strong and united community.

-Rafaela Schaimberg, Brazil"

"Eles tentaram destruir nosso povo, mas se esqueceram do mais importante. Uma vez erguidos muros e deixadas cicatrizes, as pessoas começam a ter vontade de subir estes muros e curar todas as feridas. Até que não sobra nada, além de um povo forte e unido."

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora