Mar Morto

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Um dos lugares que eu estava mais ansiosa para visitar em Israel era o Mar Morto. Sempre me puxou a curiosidade o fato de que o lago é denso o suficiente para impedir que um corpo afunde nele, e eu sempre quis experimentar esta situação. Fomos para lá logo após Massada, e foi uma alegria imensa finalmente poder trocar os tênis por chinelos a caminho de lá. Confesso que me arrependo de não ter me coberto de lama- não por uma questão estética, mas por puro entretenimento mesmo.

Lembro que recomendaram que entrássemos calçados- de chinelos ou tênis- para que não nos machucássemos com os pedregulhos do caminho, e eu não poderia agradecer mais por essa recomendação; me ajudaram a tirar proveito da situação com muito mais intensidade.

O meu único desejo de não arder para que eu pudesse boiar por um bom tempo foi realizado. Devido a minha natureza desastrada, eu sempre estou com um corte aqui, outro ali, e não foi diferente naquele dia. Mas, por motivos desconhecidos, nada me aconteceu.

Acho interessante que as pessoas sempre me julgam a um primeiro olhar como alguém muito madura. Alguém com altas capacidades lógicas e interpretativas. Eu não sei por quê. Não entendo o que me difere tanto do meio, mas bem. Se teve alguma situação na Marcha que me fez voltar a ter a mentalidade de uma criança de 4 anos, foi no Mar Morto.

Começou com um simples 'Ai, meu Deus, eu tô boiando, gente!' para terminar com um grito por eu ter supostamente perdido o meu chinelo- porque eu claramente havia me esquecido de que era impossível que um corpo ali afundasse.

A atmosfera daquele lugar era tão agradável que fiquei chateada por ter que sair, especialmente por conta do horário do passeio de camelo. A salinidade não me incomodou mesmo.

Depois tivemos que tomar uma ducha nos chuveiros de água doce de lá, e tenho certeza de que nunca me humilhei tanto em um lugar público. A água era tão gelada que me fez repensar várias vezes se valia o esforço retirar o sal do corpo. Parecia que quanto mais sabonete eu passava, mais sal aparecia. Isso porque eu já havia tomado banho mais cedo, e não havia molhado o cabelo no lago, para só precisar tomar uma ducha de corpo mesmo.

Mas acho que, no fim, o que fica guardado são essas lembranças bobas mesmo. As risadas sem fim, os gritos pela água congelante, os tropeços que terminavam na gente boiando mesmo sem querer, e as corridas para ver quem era capaz de terminar o banho mais rápido para curtir o local.

Últimos minutos de Mar Morto

Alguns minutos antes de subir no ônibus para ir à Tenda Beduína, estávamos eu e mais algumas meninas no banheiro- agora não mais de frente para o Mar- terminando de nos arrumar.

Eu comecei a ficar muito ansiosa com o passeio de camelo, e resolvi abrir o jogo sobre este nervosismo. O que escutei? Apenas recomendações para não agir como no dia do Telhado Verde.

Até agora não entendo como se lembraram daquilo, mas fato é que isso não melhorou a minha ansiedade. O Telhado Verde nada mais é do que o telhado da escola onde estudo. A questão é que para chegar nele é preciso subir uma espécie de escada de bombeiro- e eu morro de medo de escadas.

Eu nem sempre tive ele,  mas depois de cair de duas escadas em dois anos consecutivos, comecei a repensar minhas ideias. As sessões de fisioterapia ainda não terminadas devido a minha péssima postura por ter ficado mais de 4 meses pisando errado simplesmente geraram um trauma muito grande.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora