Street Art

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Quando minha mãe me deu, ainda no Rio, o roteiro da viagem, me chamou a atenção uma das atividades do último dia- um passeio por Neve Tzedek, bairro que contava com muita arte de rua.

Eu sempre fui interessada pelo fazer artístico. Escrevo desde os 7 anos, e sempre guardei tudo. Já gostei bastante de desenhar, mas hoje vejo que era apenas uma paixão de infância: o talento eu não tenho. Mas, nos últimos tempos, a arte vem ganhando uma nova significação para mim, ainda mais forte.

Todos, na vida, tem sua vez de quebrar a cara. E quando digo isso, realmente estou falando de assuntos sérios, não dramas que se resolvem em apenas uma questão de dias. A arte foi a minha maneira de me reconstruir. Foi ela que me ensinou a ver que, por mais que a vida não seja aquele conto de fadas vendido por grandes indústrias, sempre dá para enxergar luz, não importa o quão longe estejamos dela.

Eu não queria, portanto, admitir que estava ansiosa para esse passeio. Era o último dia da Marcha, e só de olhar aquele panfleto com um zilhão de atividades eu já ficava ansiosa- eu cheguei a pensar, de verdade, que ia me cansar da viagem lá pelo meio, e agora estou sentada no meu quarto escrevendo a 60° página sobre ela.

Foi incrível o passeio. Eu não conseguia decidir se era melhor aproveitar o momento ou tirar fotos de cada expressão artística que aparecia- poemas em forma de quebra-cabeça, 'quadros' com críticas à sociedade em que vivemos, frases motivadoras, desenhos. No fim, acho que acabei com um equilíbrio.

Eu senti que poderia morar num lugar como aquele. Não sei explicar muito bem, mas foi uma sensação de paz que me invadiu quando andava por lá. Acordar em um desses prédios antigos que possuem uma fachada toda viva por sua escolha cromática, vestir uma roupa despojada- porém meiga- e ir tomar um café à janela, vendo os restos de uma noite agitada: o início de um dia perfeito.

Quem não me conhece muito bem, pensa que eu já me imagino em Paris autografando meus livros, mas posso afirmar que este pensamento nunca passou pela minha cabeça. O que almejo mesmo é paz de espírito, calma na alma, serenidade. Desejo estar bem comigo mesma: não na correria do dinheiro, mas não na miséria.

Não digo que me vejo morando lá porque, hoje em dia, o bairro está sendo demolido e reconstruído por alguns empresários. Eu fiquei pasma com a notícia: será que um bairro alegre, do amor e da juventude realmente incomoda tanto o sistema capitalista?

Saí de lá com a incerteza de poder vê-lo de novo, mas o que deixo no coração é a imagem de carinho e idealização que construí por apenas alguns minutos.

Gritos pela liberdade: diário de bordo da Marcha da Vida de 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora