Fourteen

140 9 1
                                    



Hoje completa seis anos da morte de Lara. A casa amanheceu silenciosa, triste. Mamãe disse que iria passar lá antes de ir a faculdade. Tia Meg concordou, ela pegaria uma carona com mamãe.

Hoje é o único dia que não sou obrigada a ir ao colégio. É o dia que eu me fecho pro mundo. Incrível, o dia amanheceu nublado, com uma pequena camada de chuva.

Desço as escadas com os dvds em mãos, pego na cozinha os chocolates,o pote de sorvete. Após colocar o dvd pra rodar, senti-me no sofá e passo as duas horas seguidas vendo vídeos meus e da minha irmã. Depois de chorar, horas sem fio, subo pro quarto dela, toco nas poucas roupas, olho as fotografias.

Me agacho no chão do quarto e deixo me ir, nas lembranças. Na saudade.

Por volta do meio dia, visto minha jaqueta, estava pronta para ir visitá-la. Passo na floricultura em frente o cemitério. Pego tulipas vermelhas com rosas brancas, suspiro fundo antes de pisar dentro do local.

Não demoro e acho seu túmulo, me agacho e olho a gravura:

Lara Elizabeth Morgan
1994 - 2010
Irmã e filha amada.

Uma foto sua acompanhava na campa. Algumas lágrimas já escorriam pela minha face:

-Olá Lara... se passaram sei anos, sem você. Eu posso me declarar forte finalmente. O que sinto agora é saudade, algo que nunca será aplacado. Mas agora consigo ver fotos suas, falar de você, sorrir quando alguém diz seu nome. Irmã, esses dois meses que se passaram aconteceu tanta coisa, eu me sinto confusa. Nessas horas eu sei que me abraçaria, faria um bom cafuné em minha cabeça, enquanto eu estaria deitada no seu colo. No jardim de casa. -Passo meia hora ali. Só proferindo palavras.

Na hora de me despedir, eu me levanto. Coloco uma rosa em cima da campa. E o restante na parte da grama.

Ao me virar vejo ele. Meu corpo gela, não imaginaria que ele viesse aqui:

-Pode ficar... eu já estou de saída! -Quando passo por ele, Liam segura minha mão.

-Fica. E-eu... só conseguirei com você aqui... -Ele diz sem olhar nos meus olhos. Então me viro para frente enquanto seu corpo estava de costas, se aproximando da campa dela.

Ele deixa uma rosa vermelha. Se agacha, sua voz era serena, e baixa. Mas ainda conseguia ouvir:

-Lara... Você deve saber que é! Você deve me odiar... Por isso vim pedir desculpas, por ser tão idiota com sua Irmã, por não estar lá quando ela precisou de mim. Por ser imbecíl ao ponto de dizer merdas pra ela. Eu fugi nos últimos dois anos, não vim vê-la, tentei afastar memórias que traziam você. Por que tudo que remete à vocês duas, eu me sinto fraco. Vocês são meu ponto fraco. Por que são importantes demais para mim. Agora sei que sou egotista demais para deixar sua irmã. Prometo não fugir, prometo tentar parar com o vício de novo. Mas por favor... não deixe ela ir... ela é tudo o que tenho agora!

Suas palavras saíram trêmulas pelo choro, ele soluçava, me aproximo dele e o abraço, era tudo o que precisávamos no momento, a companhia um do outro.

Saímos dali e ele me levou a um café. Falamos das nossas lembranças de quando crianças, eram por volta das três quando caminhávamos abraçados de lado na rua de casa.

Era uma coisa estranha entre nós, depois de cinco anos agindo como desconhecidos. Vejo o carro do meu pai e franzo o cenho:

-Papai voltou?! -Olho para Liam. Solto do abraço dele e corro para dentro de casa. Eu gritava repetindo essas palavras, Liam seguia atras rindo.

Assim que abri a porta e atravessei a sala e vi seu corpo sentado segurando uma xícara e minha tia ao seu lado, papai me viu e colocou a xícara na mesa. Corri até ele e o abracei:

-Você voltou!

-Sim pequena, voltei para casa! Finalmente estarei em casa agora. -Ele ainda vestia a sua farda militar.

Depois da perda de Lara, ele se alistou para ir ao Afeganistão, sem o consentimento de mamãe. Dois meses depois eles se divorciaram. Mas ainda sim eu sabia que se amavam.

Chorava de felicidade em seu colo:

-Liam! Vem cá, deixa eu dar um abraço em você rapaz! -Papai me solta por um momento e espera Liam desencostar do batente da porta.- Você cresceu! Deve estar maior do que eu! - Papai brinca.

-Que bom que está de volta tio Matt, vai ficar até quando?!

-Voltei pra ficar Liam. Sou coronel agora, vou preparar outros que se alistaram no exército, mas isso aqui! Em solo americano!

Ponho a mão na boca surpresa. A porta da sala se abre e revela o corpo da minha mãe. Liam estava ao meu lado, sentado.

Papai estava em pé. Olhando para mamãe. Que não tirou os olhos dele também. Minha tia em silêncio nos chama pra cozinha e nos oferece seus bolinhos deliciosos.

Não se ouvia nada da sala:

-Isso é tão agonizante! Eles ainda se amam, sei disso por que ela usa a aliança em um cordão de ouro no pescoço. A foto do papai ainda está na carteira, e ela ora por ele todos os dias. E ele, você viu o jeito dele quando ele chegou?! Ele simplesmente parou, ficou todo bobo. -Comento, sorrindo.

-Calma Lucy, tudo tem seu tempo! -Liam diz e põe a mão no meu ombro.

-Ouve seu amigo Lucy! -Tia Meg morde seu bolinho.

A Garota Que Ele Nunca Percebeu || J.B. & L.P.Onde histórias criam vida. Descubra agora