Seguindo em Frente (Concluído)

Capítulo 22

Miguel

Elisa não está na cama quando acordo, ouço seus passos pela casa, sinto o cheiro do café invadindo o quarto. Minha mão corre pelo lençol frio onde ela deveria estar e entendo que já faz um tempo que saiu da cama. Levanto-me sem pressa alguma, ainda não são nem sete da manhã. Temos muito tempo até ter que ir ao trabalho. Deixo a cama devidamente arrumada. Coloco uma calça branca e escovo os dentes antes de ir encontrar com ela.

Ainda no corredor eu consigo enxergar a cozinha e fico observando como ela se move entre a pequena mesa e o fogão. Os cabelos estão lisos e soltos sobre os ombros, emoldurando seu rosto. Um rosto bonito e delicado, mesmo estando tão abatida como pude perceber. Encosto-me ao batente da porta, propositalmente fazendo barulho para ser notado.

- Te acordei?

Ela pergunta com a sua habitual timidez. Acho lindo como apesar de tudo ela ainda fica um pouco tímida ao meu lado, isso faz parte dela, da sua essência.

- Não. Sempre acordo cedo. Senti sua falta na cama.

Digo passando meus braços por sua cintura fina e puxando seu corpo pra perto de mim. Ela toma a iniciativa e me beija os lábios.

- Melhor assim. Vamos comer e depois você lava a louça. Já preparei tudo.

- Tudo bem. Volta comigo hoje?

Pergunto depois de me sentar, tento parecer não me importar muito, o que quero mesmo é ouvi-la dizer que sim, que volta comigo e fica aqui.

- Acho melhor não. Não quero que se canse de mim, vamos tentar ir com calma. Almoçamos juntos se você quiser e no fim do dia volto pra minha casa.

Como uma torrada pra disfarçar minha decepção com sua resposta. Quando vi aquela mochila pendurada em seu ombro ontem eu me dei ao luxo de imaginar como seria ter sua presença nessa casa todos os dias. Acho que estou mesmo indo com muita sede ao pote. A qualquer momento ela me chama de psicopata e foge correndo. Preciso controlar a ansiedade, dar mais tempo, esperar que ela confie em mim e queira estar comigo tanto quanto eu quero estar com ela.

-Sabe minha opinião, mas vou respeitar a sua. Se quiser voltar comigo me avisa.

- Quero conhecer sua mãe. Beca foi ótima comigo e Alice é um amor. Sua mãe não deve ser muito diferente.

Ela muda completamente de assunto. Acho bom que queira conhecer o restante da família, estão todos impacientes por isso.

- Vou marcar. Dona Carmem vai adorar você. Tenho certeza.

Seguro sua mão livre sobre a mesa, ela me olha sorrindo. Um sorriso resplandecente que ilumina tudo a sua volta, me orgulha saber que sou o motivo dele. Olho em seus olhos, a curiosidade volta ao perceber a aparência de suas olheiras.

- Dormiu bem, Lis?

Ela desvia o olhar, me responde que sim. É mentira. Ela pode saber mentir pra outras pessoas, mas eu sei quando é sincera comigo e quando não é.

- Vou me arrumar e você cuida da cozinha.

Afasta-se rapidamente depois de um breve selar de lábios. Está fugindo de me contar que não dormiu bem, não importa agora. Ainda vou conseguir fazer com que ela confie completamente em mim.

Tiro a mesa e lavo as poucas peças de louça de usamos.

De volta ao quarto eu vejo a mochila de Elisa aberta sobre a cama. O celular no criado mudo, as chaves caídas no chão. Ela sabe como encher minha vida e minha casa.

A porta do banheiro se abre e ela sai deslumbrante. Uma calça preta justa que favorece seu corpo, a blusa branca não tem muito contraste com sua pele clara, mesmo com os saltos altos ela continua vários centímetros menor que eu.