Capítulo 30

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Miguel

Elisa finalmente decidiu que era hora de limpar a antiga casa. Ela precisa pegar algumas coisas por lá e resolveu separar tudo o quer de uma vez só. A decisão de vender a casa foi tomada sem nenhuma opinião minha, não quero e não posso decidir sobre nada relacionado ao seu passado. Vamos separar tudo que for importante e doar todo o resto. Colocar a casa nas mãos de um corretor e esquecer tudo que for ruim. Passei a semana toda preocupado com isso, sei que não vai ser fácil pra ela, mas é algo que não posso evitar.

Contei ao Bernardo tudo sobre o assunto e pedi seu carro emprestado, quero ter espaço o suficiente pra resolver isso em apenas um dia.

- Sabia que ela já estava morando com você, estava na cara. Fico feliz por vocês. Pode levar a Mercedes e me liga se precisar.

- Eu não acredito que ainda chama seu carro de Mercedes. Sua criatividade não tem limites, Bernardo.

A Mercedes na verdade é uma picape velha que ele venera. O raciocínio do meu irmão é estranho, desde a infância ele é muito criativo em suas brincadeiras e vivia se metendo em confusão.

- Eu posso falar pelo mundo que tenho uma Mercedes e não é mentira. Andreia não reclama.

- Andreia é completamente o oposto de você. Calada, organizada e educada. O que ela encontrou pra gostar de você é um mistério.

- Tenho meus atributos, sou inteligente e conquistei minha mulher. Casei primeiro que você e mereço seu respeito, agora se me der licença eu preciso ir, vou pegar carona com o papai. Vamos juntos buscar minha mulher, já que fiquei sem carro.

- Leva o meu.

Ofereço uma solução mesmo sabendo que ele vai negar, meu irmão tem uma espécie de necessidade de estar junto e ser cuidado pelo papai e a mamãe. Uma parte disso é por culpa minha, do meu velho coração na verdade, ele foi o centro das atenções por um bom tempo, deixando o Bê de lado às vezes, isso o transformou em um adulto apegado. Apegado até mesmo a mim.

- E perder a chance de passear com papai por aí? Nem pensar. Maior programão cara. Tenho certeza que se eu pedir ele me leva até pra tomar sorvete e comer pipoca.

Ele diz gargalhando e atraindo a atenção de Irene que está na recepção. Consigo vê-la pela minha porta aberta.

- Então vai, o papai está sempre saindo mais cedo.

- Já sabe. Se precisar me liga que eu resolvo que o precisar. Pareço um menino, mas sei ser o adulto responsável se for preciso.

Ele vai de encontro ao nosso pai.

A noite de hoje é algo que tem me preocupado bastante, separar lembranças e reviver memórias, vai ser difícil, as poucas vezes que estive lá, conheci apenas a sala, cozinha e o quarto de Elisa. Tenho até um pouco de medo do que vamos encontrar. Acredito que ela nem mesmo tenha mudado algo de lugar.

Recebo uma mensagem de Claudia, ela me avisa que Elisa já desceu e está bem nervosa. Passou o dia dispersa e quieta. Me pediu pra avisar quando chegarmos em casa e dar notícias do estado emocional da Lis, assim que for possível. Pela primeira vez em semanas sou o primeiro a sair. Meu pai ficou mais um pouco, não que esteja trabalhando. Bernardo não permitiria isso.

Assim que as portas do elevador se abrem, eu vejo minha noiva abraçada com a amiga Luiza. Caminho até elas lentamente, não queria interromper o momento, mas é inevitável. Elas notam a minha presença.

- Fica calma, seu Doutor gostosão chegou.

Elisa olha chocada pra amiga, Luiza não tem filtro entre o cérebro e a boca. Confesso que chega ser divertido, no começo eu me preocupava com essa amizade. Tive medo de não ser algo saudável pra minha doce e delicada Lis, por sorte eu estava enganado.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora