Capítulo 26

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Miguel

Depois de ter certeza que iria morrer jovem, a vida me surpreendeu infinitas vezes. Formulei sonhos e pensei que nunca realizaria nenhum deles, a morte era a minha única certeza, até que em um belo dia o coração novo chegou, alguém morreu pra que eu pudesse viver, isso me motiva todos os dias a ser melhor, aproveitar essa oportunidade extra que recebi. Depois do transplante eu comecei a sonhar ainda mais, uma casa bonita, uma mulher pra amar e que ame de volta na mesma intensidade, dois ou mais filhos, nada de cachorro, nos meus sonhos, meus filhos teriam um peixinho como animal de estimação. Minha vontade era alcançar a felicidade plena antes de morrer. Sempre soube que poderia não chegar muito longe, afinal meu corpo usa um coração que não foi feito especialmente pra ele.

Depois de ser deixado por Diana, enquanto ainda doente, e mais uma vez por Regina, que não suportou as constantes ligações e intromissões da minha amada e neurótica mãe, cheguei a pensar que não iria ter meu par. Tudo isso parece insignificante nesse momento, enquanto admiro o rosto corado da minha linda namorada, os olhos fechados e um sorriso tímido que não abandou os seus lábios desde o momento em que nos entregamos à paixão. Tenho plena convicção de que não preciso de mais nada, tenho tudo que preciso pra viver feliz, bem aqui nos meus braços.

- Por que está me olhando assim?

Eu já a conheço tão bem, depois de se entregar completamente e se deixar levar por suas vontades e desejos, ela está envergonhada com o meu olhar em seu corpo nu. Minha doce Lis.

- Essa é fácil, é porque eu te amo e você é a mulher mais linda do mundo, e mais importante, é toda minha.

Ela esconde o rosto em meu peito, aperta o lençol que antes estava aos pés da cama e agora cobre seu corpo.

- Sou cheia de defeitos, Miguel, cheia de feridas, você mesmo viu essa noite, eu não consigo sequer pegar meu carro pra ir à padaria, espero que não se canse de mim, não sei se aguento te perder também.

- Não vai me perder, linda. Vou estar com você enquanto eu viver.

- É disso que tenho mais medo.

Ela sussurra tão baixinho, nem sei se queria mesmo ser ouvida. Escuto um fungar baixinho.

- Não entendi. Fala comigo.

- Tenho medo que você morra também. Não sei se suportaria, promete que não vai me deixar sozinha.

Não é uma pergunta, ela quer que eu prometa algo que não temos controle, conheço sua história desde antes de conhecer seu rosto, entendo perfeitamente os seus medos, faria qualquer coisa pra vê-la bem e feliz.

- Eu vou continuar me esforçando pra viver o máximo que for possível, amor. Estou no caminho certo, te falei, vou ser um recorde de sobrevivência pós-transplante, não se preocupe com isso, ainda temos muito tempo juntos.

Seus lábios quentes tocam a pele em meu peito, me aquece completamente, viro meu corpo e fico de frente pra ela. Tão perto que sinto o calor de sua respiração.

- O que acha de comer, tomar um banho e voltar pra cama? Aposto que está com fome e cansada.

- Quero o banho primeiro. Se importa?

- Nem um pouco, pode ir.

Ela sai da cama em silêncio, enrolada no lençol azul, abre a gaveta dela e tira uma muda de roupa, visto uma calça de moletom larga que costumo usar pra dormir.

A ideia de um banho antes de jantar foi ótima, aproveito esse tempo pra trocar nossos lençóis e esquentar a comida, quando ela terminar o banho não vai precisar se preocupar com nada além de comer e dormir.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora