Capítulo 2

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Miguel

Finalmente meu pai conseguiu o que ele tanto queria. Desde a minha escolha pela ortopedia que ele insiste pra trabalharmos juntos. Seu grande sonho era me ver trabalhando com ele e agora que conseguiu vive falando que vai se aposentar, já que seus pacientes tem um novo médico de confiança.

Foi fácil encontrar um novo lugar para o consultório. Cláudia disse que no prédio dela tinha um bom e realmente deu certo. Foi difícil largar o hospital. Me dediquei a ele por muito tempo, anos no mesmo lugar. Amigos queridos. Algumas pessoas são quase parte da minha família depois de tanto tempo, mas agora é hora de uma nova fase da minha vida começar.

A mudança do papai foi feita e a minha sala foi decorada bem rápido. Menos de dois meses e tudo foi finalizado.

Logo na minha primeira semana Claudinha pede minha ajuda.

— Miguel querido. Que bom que chegou cedo. Preciso de você. Meu teclado não está funcionado direito e o técnico só pode vir amanhã, na parte da tarde. Não sei o que tem de errado. Até Elisa olhou.

Nosso encontro na garagem é rápido, sou bombardeado com suas palavras apressadas.

— Bom dia pra você também senhora Cláudia. Respira primeiro.

Quem escutasse de fora poderia pensar que não somos amigos, mas Cláudia e eu sempre fomos de implicar um com o outro. O que deixava Eduardo maluco.

— O mesmo insuportável de sempre. Não muda nunca essa sua implicância. Credo.

— Eu faço o meu melhor por você Claudinha. Não sei como o Eduardo te aguenta.

Ela faz uma careta ao ouvir a forma como lhe chamei. Desde a época da escola que ela odeia e eu me aproveito dessa fraqueza. Ela tem alguns anos a mais que eu, estudamos na mesma escola e ficamos amigos. Nunca entendi como. Ela conheceu minha irmã mais velha primeiro, Beca falava sempre da nova amiga e depois que fomos apresentados nunca mais paramos de conversar e implicar um com outro. Ela tem outros círculos de amizades, mas nunca perdemos totalmente o contato.

— Pode ou não me ajudar? Para de ser chato.

— Vou tomar meu café. Depois trabalhar e no almoço eu passo lá. Pode ser assim folgada?

Ela nem se deu ao trabalho de responder. Apenas me mandou um beijinho no ar e sumiu como sempre. Eu fiquei sentado no balcão da lanchonete mesmo. Não vejo motivos pra ocupar uma mesa sozinho.

Sempre vejo uma garota aqui pela manhã. Deve ter dezoito ou vinte no máximo. Linda e sorridente, mas algo no olhar dela me deixa incomodado. Eu não sei o motivo. Algumas vezes usamos o elevador ao mesmo tempo e ela sempre para no décimo primeiro andar. O mesmo da Cláudia. Eu podia perguntar sobre a garota, mas nunca me lembro. Ela sempre me cumprimenta com um pequeno sorriso. Na sexta-feira eu vi quando saiu com a garçonete. Elas estavam bem animadas, os cabelos pretos dançavam ao vento.

Hoje notei que está um pouco pálida e o sorriso brilha menos ainda. Dentro do elevador ela sentiu uma tontura que me preocupou. Quando toquei em sua pele, pude notar que estava quente, Com certeza estava começando uma febre. Ela saiu dizendo que estava bem, que não era nada pra eu me preocupar, mas durante toda a manhã eu me peguei pensando nela e me perguntando se estaria mesmo bem e sem pensar muito decidi ligar pra saber se Cláudia conhece a garota. Minha mãe diria agora que é a minha mania de tentar salvar o mundo. Que devia me importar menos com tudo que acontece a minha volta.

— Ei Miguel. Já ia te ligar pra saber quando vem cumprir sua promessa. O teclado parou de vez. Sorte a minha que não preciso mais dele hoje.

Claudia tem essa mania de falar antes de ouvir. Lembra-me muito de Alice, esse jeito espalhafatoso de se comunicar.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora