Miguel
Claudia me enviou uma mensagem avisando sobre sua ausência no escritório, mas que mesmo assim precisava muito da minha ajuda. Esperei o fim do dia por não saber quanto tempo iria ficar por lá, gostaria de poder conversar um pouco mais com Elisa.
Enquanto organizava as minhas coisas pra ir, eu me lembrei da primeira vez que a vi, com o cantinho da boca sujo de chocolate em contraste com a sua pele tão branquinha, os cabelos pretos e brilhantes estavam soltos, os leves cachos nas pontas davam o toque final. Ela estava lendo alguma coisa e não notava nada a sua volta. Naquele dia eu fiquei encantado com o seu sorriso perfeito, percebi que era hora de sair e esquecer a cena linda que tinha presenciado.
Eu sei bem o que ela desperta em mim desde o primeiro olhar que coloquei sobre ela, mas sei também o quanto isso era errado e a decisão foi tomada. De imediato me levantei e pensei que nunca voltaria a ver a doce menina, não imaginava o quão enganado eu estava; Agora aqui estou eu. Perturbado pela garota de quem tanto ouvi falar. Claudia já me contou sobre ela, e antes mesmo de conhecer eu já me preocupava. Agora a Florzinha tem um rosto pra mim, e não era um rosto infantil como eu idealizava ouvindo as narrações da minha amiga. Nunca perguntei a idade de sua afilhada, pensei se tratar de criança, ainda bem pequena.
Eu precisava fazer algo para ajudar, tentar tirar aquele olhar perdido que às vezes vem à tona. Depois de muito me negar eu admiti que consigo manter uma proximidade saudável com ela, mesmo com toda a atração física que sinto. Posso manter minhas mãos longe.
No escritório de Claudia não foi surpresa alguma descobrir que era algo tão ridículo. Na época da faculdade ela jogou um relógio no lixo simplesmente por estar sem bateria, Eduardo viu e o pegou de volta.
Minha surpresa foi perceber como senti falta de Elisa, da sua voz, do seu cheiro, assim que coloquei meus olhos sobre ela eu fui enviado à outra lembrança, ter levado seu corpo adormecido ate o carro no outro dia foi muito pra minha sanidade. Seu corpo quente em contato com o meu, minha imaginação fluía facilmente quando pensava nela. Manter nosso relacionamento apenas na amizade é o melhor, mas pra mim é o mais difícil, ou talvez não, ela parece não me querer por perto. A forma de encerrar nossa conversa deixou isso bem claro, fiquei decepcionado com o muro que vi ser erguido entre nós ao se despedir, mesmo sem ter esse direito.
Peguei meu carro e fui para o apartamento, antes de abrir a garagem eu mudei minha direção e fui até a casa dos meus pais. Foi instintivo, não pensei e simplesmente fui. Minha mãe tem um pouco de razão sobre a minha ausência, aos poucos eu estava mesmo me afastando de toda a superproteção.
Saindo do carro eu já podia ouvir a voz dela.
- Querido abra a porta, acho que é o Miguel.
- Ele não me falou que vinha, você ligou?
Fui andando pelo jardim, ouvindo suas vozes preocupadas. Meu pai já estava na porta me esperando quando chamei seu nome.
- Boa noite pai. Não liguei, foi uma decisão de ultima hora.
- Meu amor, essa é sua casa. Não precisa avisar que vem, sabe disso.
- Eu sei mãe.
Dou um abraço em meu pai e beijo a bochecha de minha mãe, sou acolhido por seus braços, antes de perguntar.
- Estão esperando alguém?
- Elias disse que seu irmão vem jantar com a esposa.
- Ok. Vou falar com papai, se ele sumiu deve estar cozinhando. Acertei?
Eu sabia que ela viria com alguma indireta logo, mas essa foi cedo. A forma como ela disse a palavra esposa era como um insulto pra mim.
- Você sempre foge quando falo de casamento Miguel.
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Seguindo em Frente (Concluído)
RomansaElisa é uma garota doce e amável, carrega uma grande tristeza pela morte da família. Durante muito tempo se fechou em seu próprio mundo de solidão e dor, afastando assim de todos que a amam. Com a ajuda e a amizade de Miguel ela começa a superar a p...