Capítulo 31

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Elisa

 Eu pensei muito em tudo que aconteceu em minha vida durante os últimos anos, se eu fosse mais nova teria sido levada a um abrigo. Nem posso imaginar como teria sido, se mais fácil ou mais difícil, por esse motivo eu decidi fazer serviço social, poder ajudar outras crianças em situações parecidas. Quero começar logo, correr atrás do tempo que foi perdido.

 Buscar as minhas lembranças e me desfazer do resto foi muito doloroso, mas foi um divisor de águas. Eu tinha me esquecido de tantas coisas boas, estava perdendo algumas memórias. Sem o Miguel eu ainda estaria presa no meu velho quarto apenas saindo pra trabalhar e pra agradar a Luiza em algumas festas, agora eu penso em faculdade, casamento e filhos. Estou finalmente pronta pra tudo isso, ainda sinto um pouco de medo, medo de estar sendo precipitada, mas é só olhar nos olhos do Miguel que todo o medo vai se desfazendo lentamente. Olho pro lado e vejo que ele está acordado, seus olhos cheios de preocupação. Foi uma noite ruim, acordei duas vezes, não me lembro de ter gritado ou qualquer outra coisa, não quero receber esse olhar. Não dele.

- Bom dia.

Digo sorrindo e o abraçando.

- Bom dia. Como está?

- Bem, e vou melhorar. Foi difícil, mas era preciso. Obrigada por ter ficado comigo.

Me aproximo e selo os nossos lábios, sinto seus músculos rígidos e me afasto. Seu olhar continua diferente, sinto seu medo de retribuir ao meu toque.

- Não quero que fique cheio de dedos comigo. Não vou admitir que me trate como se eu fosse quebrar. Sou eu aqui. Sua Elisa.

- Desculpe, linda.

- Desculpo se você me tratar como sempre. Vamos seguir a nossa rotina do dia normalmente. Inclusive ir trabalhar.

Digo a última parte com certo desgosto. Nos últimos dias eu tenho tido a forte sensação de que não vou ter meu emprego por muito tempo, o que não vai ser de todo ruim, se eu começar a faculdade agora, vai ser bom ter um tempo extra, apesar de saber que vou sentir falta de estar com Claudia todos os dias.

- Que carinha é essa Lis?

- Acho que vou perder meu emprego. Ainda vai querer se casar comigo se eu for uma desempregada?

- Me casaria com você mesmo se tivesse três olhos. A falta de um emprego não é nada. Vamos pensar em uma forma de ocupar seu tempo, temos o casamento pra organizar em breve. Vai precisar de um tempo pra isso.

- Decidi começar a faculdade. Não vou ser apenas uma esposa troféu.

Ele nos gira na cama, ficando por cima de mim. Deixa beijos em todo o meu rosto e depois se deita novamente ao meu lado. Permanece com os olhos fixos nos meus.

- Eu estou muito feliz agora. Quando foi que decidiu isso? Não me falou nada. O que vai fazer?

- Serviço Social. Acho que combina comigo. O que acha?

Sentamos juntos na cama, olho as horas. Precisamos nos arrumar logo.

- Acho incrível. Se for o que quer, vou te apoiar em tudo. Ficar sem emprego vai ser até bom, ter um tempo pra estudar é importante. Vai poder se dedicar melhor, dinheiro não é um problema. Claudia já sabe?

- Ainda não, acabei de tomar essa decisão. Foi o primeiro a saber. Não tenho dúvidas de que ela vai gostar. Quero evitar que ela tome seu tempo se preocupando comigo, é hora de pensar no filho que vai ter.

- É menino?

- Ela fica sempre falando que é um menino, mas ainda não tem certeza. Acho que acabei acreditando nela.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora