Capítulo 19

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Elisa

Dormir não é algo que eu faça muito. Acordo primeiro e noto que ele tirou a camisa enquanto dormia. Uma fina cicatriz em seu peito me lembra o quanto ele é especial e lutador. Passou por tanta coisa, é um homem incrivelmente forte. Eu me deixei sufocar pela perda e parei de lutar. Ele foi em frente e se tornou mais forte. Me envergonho em pensar o quanto fui fraca por esses anos.

Toco seu peito nu, sinto o calor de seu corpo, as batidas do seu coração e consigo compreender a preocupação de sua mãe. Ter um filho à beira da morte deve mudar a perspectiva de qualquer um.

Ainda é cedo, passa pouco das seis, vamos sair logo. Tomo um banho e preparo o café da manhã. Coloco a mesa pra dois. Essa mesa não é usada faz tempo.

Volto pro quarto e encontro a cama feita. Tudo bem esticadinho e a maleta preta que ele sempre carrega está fechada sobre ela.

- Você é muito certinho.

Sinto seu abraço. Sua cabeça descalça sobre meu ombro. Ele tem o cheiro do meu sabonete agora.

- Nem tanto. Um cara certinho não fica sem cueca logo cedo.

Olho pra ele com os olhos arregalados sem acreditar no que ouvi.

- Queria o que? Que eu colasse a mesma cueca suja? Sou limpinho.

- Eu não quero saber. Vamos tomar café e você passa em casa pra se trocar, folgado. Pensei que tomaria banho na sua casa.

- Você é a minha casa. Se arruma rápido que eu não quero me atrasar.

- Vou me trocar e te encontro na mesa. Não vou dizer pra se sentir em casa, já está se sentindo.

Ele me abraça apartado, sinto uma mordiscada na orelha. Será que ele sabe o quanto me balança quando diz que sou sua casa?

- Porque eu sou folgado. Já ouvi essa também. Falei pra ser mais criativa.

- Não estava com pressa?

Ele deixa o quarto sorrindo. Escuto seus passos pela casa e os barulhos pela cozinha enquanto me troco. É bom ter movimento em casa, saber que tem alguém comigo.

Visto algo confortável. Calça e sapatilhas são o ideal pra hoje. Na cozinha encontro Miguel na cadeira da ponta, onde meu pai sentava. Sinto tantas coisas ao mesmo tempo que nem sei. Ele sorri quando nota minha presença, decido que só sinto amor. Meu pai aprovaria sim. Miguel é um homem honrado, o tipo de homem que o deixaria orgulhoso.

- Meu pai teria gostado de você. Sei disso. Você me ama, respeita e cuida de mim. Teria gostado dele também.

- Senta aqui.

Ele me convida pra sentar em seu colo, vou de bom grado. Gosto de estar sempre perto, sentindo o calor e conforto que ele tem pra mim. Deito minha cabeça em seu ombro e beijo seu pescoço.

- Boquinha gelada. Devo ter visto ele uma ou duas vezes com Claudia. Ela falava muito de vocês pra mim. Estudamos na mesma escola e mesmo sendo mais novo ficamos amigos. Eu a ouvia falar de você e imaginava uma garotinha de 10 anos.

- Vou perguntar a ela sobre isso. Quem sabe você conheceu meu pai. Eu ficaria feliz com isso Ela me disse que não foram amigos, mas podem ter se encontrado em alguma ocasião. Ele foi pai tão cedo. Quando ele tinha a minha idade eu já tinha nascido, mamãe era ainda mais nova, tinha apenas dezoito quando eu cheguei ao mundo. Era melhor amiga da Claudia. Fizeram faculdade juntas, mas minha mãe não exerceu a profissão. Já foi bem difícil começar o curso com um bebê em casa.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora