Capítulo 39

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Elisa

Tem sido cada dia mais difícil manter segredo. Convencer Miguel a esperar o Davi ter alta foi ainda mais complicado, por ele teríamos anunciado a gravidez no jornal, mas achei tão injusto compartilhar isso nesse momento. Claudia tem estado devastada, fica dia e noite no hospital, não vemos a hora de ter o pequeno em casa, cercado de amor. Não consigo olhar aquele rostinho e sair bem. Fico angustiada só imaginar como ele se sente ali dentro, parece preso naquela caixinha de vidro. Ele nasceu em um parto prematuro muito repentino, por isso os pulmões não estavam prontos pra ele respirar sozinho. O que nos deixa aliviados é que parece melhor a cada dia. Cresceu e ganhou peso, em poucos dias vai poder ficar nos braços dos melhores pais que ele poderia ter.

Miguel se esforça pra almoçar em casa e chegar cedo. Tem sido ainda mais cuidadoso comigo e acho lindo o seu cuidado. Depois daquele dia eu não tentei pegar o carro e nem vou, acho melhor esperar. Não quero ficar nervosa e deixar o meu neném sentir isso.

Pedro não é apenas meu médico, é amigo do meu marido, então às vezes sinto que o cuidado é especial. Durante a primeira consulta ele me explicou tudo que eu perguntei e um pouco mais. Ouvimos o coração do bebê e Miguel chorou como um.

- Bom dia amor. Odeio acordar e não te achar na cama. Está tudo bem?

Miguel se senta ao meu lado no sofá. É cedo, mas perdi o sono. Tenho dormido bem agora. Faz tempo desde o último pesadelo e se acontecer, acordo Miguel pra conversar.  É a preocupação com o pequeno Davi que me tem feito dormir menos.

- Desculpe. Sabe que não gosto de acordar você.

- Besteira. Quer conversar?

Me aconchego em seus braços. Ele toca em meus cabelos, um carinho gostoso.

- Estou pensando no Davi. Tão pequeno e já passou por tanta coisa pra aprender a respirar sozinho, acabei perdendo o sono.

Ficamos em silêncio um tempo, minha cabeça em seu peito e suas mãos me acariciando lentamente.

- Lis, não venho almoçar em casa e vou demorar hoje. Tenho muitas coisas pendentes e preciso resolver logo. O que acha de ir visitar a mamãe? Ou quem sabe Andréa, podem olhar fotos dos cavalos.

- Não vai tentar me fazer desistir? Aconteceu tanta coisa que vou sempre adiando a compra.

Beijo levemente seus lábios e ele acaricia a minha barriga.

- Não. Desisti de tentar, apesar de achar que até porquinho é uma opção melhor. Você é teimosa como uma mula empacada, a Cláudia me avisou, eu fui ingênuo e não dei ouvidos.

- Esse seu medo é tão bobo.

Digo gargalhando do que ouvi. Sempre fui elogiada pela minha persistência, mas ele e Cláudia chamam de teimosia.

- Não é. Heitor é uma prova, quase morreu quando subiu naquele cavalo maluco.

- E foi por isso que conheceu o seu tão amado Recanto. No fim o cavalo foi até legal.

Não tão legal, já que Heitor se machucou de verdade, mas o pobre cavalo não teve culpa. Que coisa chata ficar culpando o bichinho.

- Vai pra minha mãe ou pra Andréa?

Acomodo-me melhor e olho em seus olhos. Ele não gosta de me deixar sozinha por muito tempo. Quando contei que vou adiar a faculdade ele não gostou nada, mas pode ficar pro ano que vem. Não quero começar e logo depois parar pela licença maternidade.

- Não preciso de ninguém cuidando de mim. Nove semanas e nada de enjoo ainda, estou comendo bem e não esqueço as benditas vitaminas. Sou uma boa mãe, mais tarde vou ao hospital. Existe a possibilidade de o Davi ter alta. Quero estar com Cláudia caso não seja dessa vez, semana passada ela ficou arrasada quando o pediatra disse que ainda era cedo e pediu mais uma semana.

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora