Capítulo 11

2.3K 334 17
                                    

Elisa

Foi uma completa insanidade chamar o Miguel ontem, mas eu gosto de estar perto dele, me faz bem. É certinho de mais, enxerga o mundo de uma maneira diferente, ele me faz querer sonhar, me faz querer aquela garota de anos atrás de volta. Gosto dele mais do que deveria, foi rápido como um tiro e eu não vi por onde fui atingida, mas gosto dele, gosto do que ele me faz sentir, não devo, ele tem alguém, não falamos sobre isso ainda, mas eu sei que tem, ela o chama de querido e avisa quando vai se deitar, não deve ter problemas emocionais pra vencer e imagino o quão brava está por eu ter ligado essa noite, espero não ter criado problemas a ele.

Café da manhã, arrumar a casa, sentir saudade, rotina normal de fim de semana, mas hoje é diferente, sem dor, só lembranças boas, papai me ensinando a dirigir, mamãe me ensinando a cozinhar, sempre diziam que eu podia ser o que quisesse, qualquer coisa, por isso precisava conhecer as possibilidades, eu sempre soube que iria seguir os caminhos do meu pai, mas agora não sei, advocacia não enche mais os meus olhos.

Olha eu fazendo planos novamente, gosto disso. Tenho medo, e se o que eu sinto por ele for grande a ponto de me fazer sofrer por não ficarmos juntos? Não vou deixar que isso aconteça.

Não quero o vazio e dor de volta, acordei decidida a mudar, mudar tudo, seguir minha vida, voltar a viver plenamente. São tantas coisas que vou precisar mudar, quero me mudar dessa casa, um lugar menor, algo meu, vou manter essa casa por um tempo e depois decido o que fazer com ela, são muitas lembranças e acho que não vou conseguir vende-la nunca, mas por agora só preciso de um novo lugar pra recomeçar. Pego o jornal no jardim, nunca cancelei a assinatura do papai, ter o jornal jogado no jardim me dava a falsa esperança que ele voltaria e iria se sentar na poltrona da sala para ler, outra coisa pra fazer, cancelar a assinatura do jornal do papai.

Acho a pagina certa e começo a circular os possíveis apartamentos pra mim, o primeiro é muito longe, o segundo não fica em um bairro bom, o terceiro pode ser que seja bom, depois de marcar cinco opções eu deixo o jornal sobre a mesinha da sala e vou até a cozinha procurar algo para comer. Passa de meio dia e preciso me alimentar melhor, abro os armários e não encontro nada que me agrade, na geladeira tem queijo, água e bolo, nada que sirva pra almoçar.

Me troco rapidamente, e paro em frente ao espelho, um vestido amarelo de alças finas, gosto dele, minha mãe disse uma vez que eu iluminei a vida dela, que aqueci como um grande sol, tudo isso apenas pra dizer que fico bem de amarelo, desde então gosto ainda mais da cor, toco meus cabelos, estão completamente lisos, sem ondas ou cachos nas pontas, sempre gostei, mas depois do acidente eu mudei. Me olhar no espelho e ver um pedaço dela ainda dói muito, prendo meus cabelos para sair de casa e ouço o som da campainha tocar, abro a porta sem acreditar em quem estou vendo.

- Miguel?

Ele está parado diante da porta aberta, um pouco envergonhado.

- Entra, o que veio fazer aqui?

- Estava saindo? Não quero atrapalhar, eu vim só...

Ele deixa a frase morrer sem saber o que dizer e eu acho fofo.

- Você veio?

Tento incentivar sua resposta e ele levanta um pacote que eu ainda não tinha percebido que estava em suas mãos.

- Desculpe por vir agora, eu não pensei que poderia estar de saída, te trouxe o almoço.

- Obrigada, eu estava saindo agora pra almoçar, mesmo assim eu agradeço.

Miguel é muito transparente, consigo perceber sua surpresa e curiosidade quando digo que ia sair para almoçar.

- Sozinha?

Seguindo em Frente (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora