Capítulo XIII - Gift

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Após certo tempo sentado esperando e conversando com os guardiões do portão, William percebeu uma torre de fumaça se erguer ao sul, em direção ao Arroio da Garganta, um pequeno rio nascente da Narval Leste, um rio maior, divisão da Narval Central pelo qual dizem que grandes navios cargueiros levavam o marfim de chifres de baleias séculos atrás antes da divisão das raças e da extinção desses magníficos anumais, Esse rio deságua no Mar de Sal, seria possível ir para qualquer império ou cidade Dalí... Só lhe faltava um barco, porém, a Garganta não é tão próxima assim, ele levaria horas para chegar onde estava a fumaça, sem pensar que ainda havia o risco de encontrar Wakuben e Bruxos com más intenções pelos arredores da cidade... Pensou.
~E se for um acampamento Wakuben?... Não sei se seria uma boa idéia ir... Eu devo ir ao norte afinal de contas, para Mahzii não ao sul... Porém indo ao sul há a possibilidade de eu encontrar algum meia raça, que seria de grande ajuda... Mas e se eles forem ruins? E se eu for em busca de ajuda e acabar perdendo o pouco que tenho?... Acho que...
Seu turbilhão de pensamentos foi interrompido pelos passos desengonçados de Aria que sem equilíbrio voltou a andar mas ainda meio inconsciente, Quando ele abriu os olhos, com o rosto ainda molhado, se deu conta de que não estava mais nos domínios de Vahzya...
- Senko, você está bem? O que houve no seu desafio?
- Meus pais e... Ela...
- Ela?...
- Você sabe, ela estudou conosco na infância... E... Bem... Ela... Era ela...
- A irmã do Milla? Aah... Eu... Você matou ela? Mas...
- É eu sei, ela morreu anos atrás no incêndio da casa da família deles, mas ela estava me pedindo para ficar em Vahzya, e que se eu não a matasse eu não passaria... Eu tentei diversas possibilidades e você sabe o que eu ainda sinto por ela, mas não pensei em outra alternativa... Eu não queria voltar...
- Entendo...
- Quem você matou?
- Eu não matei ninguém, quando eu me dei conta de que era um desafio, tive uma discussão com meu pai, e saí deixando ele falar sozinho...
- Cruel... - disse com um sorriso triste e uma ponta de sarcasmo transbordando pelo canto da boca... Sentia-se culpado.
William virou-se novamente para a coluna de fumaça, queria muito ir lá, mas seu medo era maior que sua vontade.
- Jovem Sahel... - Disseram as criaturas tirando-o do seu dialogo - Não são o que você acha...
- Como vocês sabem?
- Nós vimos... E percebemos tua preocupação com o tempo também... - Ao encerrarem a frase se aproximaram um do outro e pouco a pouco começaram a fundir-se, porém ao invés de ficarem maiores e mais escuros, mantiveram o mesmo tamanho e sua tonalidade começou a ficar mais clara, agora aquela criatura humanóide possuia uma aparência digna de qualquer morador de Vahzya, com exceção de três coisas... Suas vestes pareciam nobres e caras apesar de levemente surradas, seu jeito de se mover era como se ele não possuisse senso e suas orelhas... Elas eram arredondadas, William jamais havia visto alguém assim... Ao aquilo abrir os olhos, eles não mudaram, grandes olhos de gato reluziam no escuro da noite...
- Somos Kunt... Bem... Sou... Kunt Gate, prazer... E como eu dizia eu percebi sua preocupação com o tempo...
- Como assim percebeu?
- Eu estava na sua mente, eu sei o que você planeja fazer, e eu vou te dar uma pequena ajuda...
- Por que quer me ajudar?
- Porque você precisará de ajuda... Erga seu pulso - ao dizer isso estendeu as mãos sobre o pulso de William, enquanto girava elas sussurrava palavras de uma língua desconhecida... Uma espécie de círculo violeta se formou envolvendo o braço do garoto... Com um golpe de luz ele desapareceu e no fino pulso de William estava um bracelete estranho...
- Isso, é um relógio de pulso... Não precisa mais contar as horas pelo sol...
- Um artefato humano...
- Sim.
- Eles são proibidos...
- Muitas coisas são, uma delas, é transitar entre cidades como você pretende e terá de fazer. Mas nem por isso você deveria parar é sua única chance...
- Mas... bem... Obrigado...
- Garoto Senko, aproxime-se. - disse dando dois passos em direção a ele e deixando William para trás... - Também tenho algo para você...
- N-não obrigado...
- Não rejeite. - Estendeu a mão com a palma para cima, uma pequena esfera violeta se formou em sua palma e novamente num golpe de luz desapareceu... Uma pequena caixa estava ali... - Pegue, você que porta a sanidade, tome isso.
- O que seria?...
- Um Dardo... Te ajudará nos caminhos que planeja seguir... Cuidado com os caminhos que planeja trilhar... Eu também estive em sua mente e sei tudo o que pensa e o que pensou... Sei que não quis mas fez o que era certo, irei remover este peso de sua consciência quando estiver mais distante daqui... Boa sorte... Para ambos...
Ao receberem os presentes, com um lisonjeado e o outro nem tanto assim, os garotos agradeceram novamente, e saíram lentamente do campo de visão de Kunt rumo ao sul.
Aria começou a rir sozinho e disse - Você acredita no que aquele ser me deu? Um Dardo?? Nem durante uma competição isso seria útil! - e então tomando um tom mais sério continuou - Aliás, você não ia para Malekh? Ela fica ao norte.
- Eu sei, é só que...
- Não...
- Talvez...
- Você quer ir até aquela torre de fumaça não é?!
- Sim, se eles forem meia raça podem nos ajudar na...
- Na..?? - William havia hesitado pois apesar de dizer a Aria que iria para Malekh, não havia dito o motivo para tomar tal decisão...
- Na nossa jornada. O que mais? - respondeu com um sorriso de canto de boca.
- Você está escondendo algo de mim?
- Em todos esses anos já escondi algo de você?
- Por exemplo teu nome?
- Foda-se, não precisa se preocupar com nada, afinal, você não está sozinho...
- Mas invadir o acampamento de desconhecidos não me parece uma idéia viável...
- Não precisamos invadir... Apenas chegar perto o suficiente para saber se eles são Meia-raça...
- Por que você está tão focado em encontrar Meia-raças afinal de contas?

SELYTRIA - O renascer das erasOnde histórias criam vida. Descubra agora