SELYTRIA - O renascer das eras

Capítulo XVII - Respondido

O dia passou e com ele a noite... Próximo ao amanhecer do dia seguinte William começou a acordar... Seu corpo inteiro estava dormente mas conseguia pensar claramente... Sem se mover sentiu cada parte do próprio corpo e do ambiente onde estava... Percebeu que agora apenas seus pulsos estavam amarrados... E apesar de quase não poder mover suas pernas, seus pés estavam livres... Ele estava sentado amarrado a uma árvore como um animal... Se esforçou um pouco e abriu os olhos... Olhou para o lado no escuro e viu Aira amarrado da mesma forma a uma outra árvore... Olhou ao redor buscando de certa forma ajuda mas a única coisa que foi capaz de ver foram dois corpos no gramado umidecido pelo sereno da noite e cobertos apenas por algumas tiras de couro...
Pensou...
~ Estão mortos?? ~ Mas uma imagem se passou pela sua mente referente ao dia anterior... Ele sabia que aqueles corpos não eram vítimas... Mas sim... Suas sequestradoras...
- Anjo... - sussurrou.
Começou analisar ambos os corpos mas principalmente o da garota chamada anjo... Afinal... Não haviam asas nem auréola... Se ela era um anjo de fato, ele não sabia... Mas se fosse... Seria quase que o completo inverso das lendas a quais ele escutara... Com exceção apenas... De sua beleza exuberante... Se desfocou então de qualquer pensamento que pudesse leva-lo a se distrair... Seu foco agora era apenas em acordar Aira e sair dalí... Mas não necessariamente nesta ordem... Por saber que acordar as duas moças seria um problema...
Tentou soltar seus pulsos mas não era possível... Estavam amarrados um de cada lado da Árvore com uma longa corda que contornava a mesma... Se houvesse uma forma de tirar a árvore do chão ou de tirar as mãos das argolas de aço que prendiam seu pulso à corda... Continuou tentando por muito tempo... Tempo o qual se demonstrou horas... O sol já estava nascendo quando Aira acordou... Um pouco mais relaxado que William olhou para o amigo cujos pulsos já estavam sangrando de tantos puxões que dera tentando escapar...
- Will! - Sussurrou - Pare! Não faça nada...
- O quê?
- Só relaxa e dorme...
- Por quê? Você enlouqueceu?
- Elas não vão nos ferir se fizermos o que elas mandam... Elas querem nos levar para Vahzya...
- .... - Apesar do silêncio a expressão de raiva no rosto de William dizia tudo por si só...
- Não se preocupe, é só para se garantir de que não estamos perseguindo elas... De lá estamos livres para seguir nosso caminho...
- Acho bom...
- Mas para isso precisamos de alguém que confirme nossas identidades...
- Como o Milla?
- Ou o Mirthal...
- HA! nem a pau...
- Silêncio!...
- Para quê a final de contas? O sol já nasceu! Logo elas acordarão!
- Mas nem pra isso você precisa gritar!
- Eu não estou gritando! Estou sussurrando!
- Está gritando com voz de sussurro!
- Vocês dois estão... - disse Hay, que já se encontrava de pé... - Bom ver que já acordaram... Achei que teria de levanta-los a baixo de sopapos...
- Sopapos?
- Porradas, tabefes, tapas... Indiferente - disse rindo... Mas seu riso foi interrompido por um longo bocejo...
Abaixou-se e acariciou o rosto da outra garota...
- Acorde meu anjo... O sol já nasceu e os prisioneiros já estão de pé...
- Eu não diria bem... "De pé"... Mas já que você diz... - balbuciou William por entre dentes de forma a provocar a Hay...
- Cale-se!
Anjo abriu os olhos e olhou ao redor lentamente, sem procurar por nada, sem fixar seus olhos em lugar algum, apenas como quem estivesse acordando e levemente perdida... Olhou para Hay...
- Hay, Bom dia...
- Bom dia Anjo... Dormiu bem?
- Sim Sim... Pelo menos creio eu...
- Certo, agora vocês poderiam nos soltar?- William parecia irritado. Mas era apenas a dor de seus pulsos que o incomodava...
- Quem você pensa que é? - Disse Hay.
- Alguém que não gosta de ficar amarrado à árvores...
- Sahel! - disse Aira embasbacado com a postura de William...
- Eu só estou cansado dessas amarras porra...
- Então é apenas um mal humor passageiro? - disse anjo
William então corado respondeu quase que num sussurro - Talvez...
Após desamarrado William recebeu tratamento para seus pulsos, Hay passou uma pasta verde com pedaços amarelos em seus ferimentos... A cada toque daquilo em sua pele o fazia contorcer-se de dor e ao invés de aliviar, quanto mais tempo aquilo permanecia em contato com ele a dor apenas piorava... Olhou então para a palma de sua mão, onde arranhara dias atrás no prédio dos médicos onde deixara sua mãe... O corte não estava mais alí... Nem cascas da ferida... Nem cicatriz... - O que é isso?- Perguntou controlando um gemigo de dor enquanto Hay enfaixava seus pulsos.
- Esta é uma flor das florestas de Goraak... A flor Emuxie... Quando suas pétalas e folhas são moídas com seiva de pinheiro bravo são um ótimo agente regenerativo... Por isso sua mão está de volta ao que era antes do ferimento... - Respondeu-lhe anjo...
- Interessante... Obrigado...
- Disponha viajante...
Fizeram os poucos preparativos para William e Aira e pouco antes de sair William se espantou... Percebeu que algo lhe faltara... Onde estava o "relógio" que Kunt lhe dera?... Virou-se para Hay e Perguntou.
- Onde está meu... Bracelete?
- O quê?
- Meu bracelete, onde você o pôs?
- Como vou saber garoto? Te enxerga... E indiferente de qualquer coisa... - Anjo então a interrompeu colocando uma mão em seu ombro... Puxou então para o lado sua manta escura que servia-lhe de capa e capuz demonstrando o relógio preso ao cinto dela ... - Fui eu quem o tirou... Eu tentei destruí-lo mas não fui capaz... Nem atirando pedras nele um arranhão se fez... Até em árvores já atirei e ele não se quebrou... Pretendia joga-lo no rio caso fosse um rastreador... Mas logo percebi o que era...
- Percebeu?
- Corajoso você por andar ostentando um relógio humano... Elfo-viajante...
- Foi um presente...
- Entendo... Também tenho um...
- Um relógio?
- Bem... Não... Mas um presente que pode-lhe custar a vida... Assim como eu...
- O que pode lhe custar a vida?
- Meu nascimento...
Hay espantou-se e William não entendeu mas acenou com a cabeça fingindo entender...
- Você sabe como ligar isso? - Perguntou ele apontando para o relógio...
- Sim, eu sei.