Capítulo XV - Cartas na mesa

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Ignorando os pensamentos enquanto constrangido William tentou acalmar a situação...
- Eu não sabia que era assim que você estava se sentindo...
- Isso acontece nas melhores famílias...
- Quer que eu te explique o que aconteceu?
Um silêncio enervante pairou sobre eles por um instante... Instante esse que pareceu infinito, principalmente para William...
- Sim, eu quero...
- Bem, então la vamos nós... Toda a minha família está presa com aqueles filhos da puta psicopatas que se intitulam médicos por conta de uma doença que até alguns dias atrás imaginava ser uma piada de mal gosto inventada por Mirthal ou realmente uma lenda: Que é o que todos acreditam ser. - William ficou de pé e ergueu a camisa de modo a exibir a pequena marca em desenvolvimento em sua costela - O nome desta doença é Lytha e sem o antídoto tanto eu quanto a minha família vamos definhar e morrer agonizando. Por isso eu estou tendo de confiar nas pessoas que podem me ajudar. Toda ajuda é pouca nesta situação...
Aira manteve-se parado e boquiaberto, não esperava nada tão complexo mesmo que imaginasse algo muito ruim... Tomou um longo tempo para digerir as palavras proferidas por William, recostou-se em uma árvore e deslizou na mesma até sentar-se no chão... Disse então seriamente - O que é o antídoto?
- O Sangue de um deus... - Respondeu William levemente acanhado enquanto seu rosto ruborizou ao ver o rosto de Aira se contorcer e rachar em uma longa gargalhada.
- Isso é sério Will?? Não... Você só pode estar de brincadeira comigo... - O rubor de William tornou-se uma carranca em segundos...
- Olhe bem para mim, presta a atenção em tudo o que eu fiz... Eu pareço estar brincando? - Aira parou de rir ao perceber que havia passado dos limites, prosseguiu então.
- Os deuses são uma lenda William... E se não forem... Estão extintos há séculos...
- Pode até ser... Mas ouvi dizer que há possibilidade de um deles ainda estar vivo... Preso...
- Em malekh...
- Justamente.
- Então é por isso que você quer ir para lá realmente...
- Sim. Enquanto houver uma chance de salvar minha família, eu irei atrás dela... Custe-me o que custar.
- Entendo, mas nem por isso precisa se sujeitar a cheirar antraz por vontade própria!
O tom de deboche tomou conta ds voz de William e a zombaria, de seus movimentos... - Então você não quer abrir essa caixinha?
- NÃO WILLIAM! POR FAVOR!
- "Por favorzinho"?!
- Will, isso é sério... Pelo amor de Sarys, não...
- Eu não abro se você me fizer um favor em troca.
- Qual favor?
- Você abre...
- Nunca!
- Então... - com as pontas dos dedos William destampou a caixa... O que ele viu ali o deixou horrorizado, não pôde esconder sua expressão, era repugnante. Havia algo semelhante aos ossos de um dedo amarrados um ao outro com runas estranhas entalhadas em suas laterais... Além disso, da ponta do dedo saia uma longa e larga agulha... Porém, o que mais aterrorizou William foi o tamanho daquela coisa... Era definitivamente o dedo decepado de uma criança. Enojado com a imagem perturbante do "dardo" que Gate deu para Aira, William soltou a caixa, virou-se para o lado e vomitou.
- WILLIAM!!! - Gritou Aira preocupado. E entre tosses William respondeu...
- Estou bem, estou bem... - com cuidado tampou a caixa e fingiu não ter visto o que viu, arrancou uma vinha da rocha e amarrou ao redor dela com diversos nós e laços. Jogou-a para Aira - Não abra...
- Por quê? O que tem dentro? Você está bem?
- Já disse que estou, não abra isso...
Ao tentar descer da rocha para retornarem para a trilha William se pendurou nas vinhas novamente porém algo perfurou diversos lugares de sua mão esquerda, onde segurou não era exatamente uma vinha, mas sim, o galho de uma das roseiras, a dor excruciante o fez soltar-se e a falta de equilíbrio o fez agarrar com mais força as outras vinhas que não aguentaram o peso dele e foram ao chão com o mesmo. Após se desenrolar e se levantar olhando os arranhões e furos em sua mão virou-se para Aira que estava ajoelhado de cabeça baixa murmurando uma reza.
- O que você está fazendo? - disse virando-se para a rocha... Ficou paralisado, Haviam quatro faces naquela pedra gigante e em cada uma um retrato diferente de uma mesma mulher... Uma bela mulher de cabelos longos e ondulados, um longo vestido e rodeada por rosas... William a reconheceu no mesmo segundo, ajoelhou se e por seus lábios escapou uma palavra em sussurro...
- Sarys...
Após pedir perdão devidamente por tudo o que fizera ali William cutucou Aira com o cotovelo e saíram os dois caminhando de costas até passarem pelas árvores onde se recusaram conversar sobre o que acontecera... Seguiram caminhando silenciosamente por horas, as poucas palavras que trocaram eram sobre alertas enquanto a obstáculos no caminho, um galho no qual se poderia tropeçar, lobos, pedras, espinhos ... Estava prestes a amanhecer, a fumaça estava muito próxima. Enquanto Aira suava frio William tentava transparecer tranquilidade, mas ambos os dois estavam preocupados, Kunt disse que não eram Wakuben mas William deixou de confiar no estranho com quem conversara após ver o que ele deu para Aira... Toda e qualquer vez em que aquilo passava por sua mente um arrepio gélido percorria sua coluna... Era horrível a idéia de alguém arrancar o dedo de alguém assim, ainda mais adorna-lo e pior... Uma criança... William se desfocou disso ao ver os primeiros raios de luz solar distantes, o céu estava prestes a clarear, chamou Aira e os dois correram sem se preocupar mais com o tropeçar ou cair, apenas se preocupavam com o que encontrariam mais à frente... Mais assassinos? Ou um acampamento recém esvaziado?...

SELYTRIA - O renascer das erasOnde histórias criam vida. Descubra agora