SELYTRIA - O renascer das eras

Capítulo XXXVI - Empatia

William sentiu cada segundo passar, e cada segundo parecia uma eternidade, ele se sentia morto, inerte... Não conseguia nem mesmo sentir seu pulmão ou seu coração... Apenas seus olhos abertos ficando secos com o vento... Quando o tempo finalmente acabou mal conseguia piscar, seus olhos doíam... alongou-se rapidamente fazendo suas costas e braços estalarem e correu, e ao chegar na porta de sua casa Argus estava esperando-o...
- O que você fez?
- O que disse que faria. O necessário.
- Você o matou?
- Sim e não... Teoricamente sim, mas na realidade... não, olha... Não me pede pra explicar como ele está morto porque​ é complicado... O que importa é que você não pode mais entrar nessa casa e nós temos que nos afastar daqui o quanto antes...
- Não tem sangue em você... Fico feliz que você não o matou...
- Não diria bem isso, mas te explico no caminho, vamos andando, tenho uma casa não muito longe daqui, ela tem um quarto onde você pode passar a noite...

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Alguns minutos antes

-Kunt?! Por favor, o endereço da casa do garoto.
- trigésima segunda casa da décima sétima rua no vigésimo primeiro distrito, Senhor. - Respondeu a voz de Kunt em um sussurro que ecoou forte pelo silêncio​ da cidade em um tom que apenas os ouvidos de Argus e alguns animais eram capazes de ouvir, aquele som atiçou muitos cães pela cidade...
- Você? Falando? Isso é novidade! A cidade ainda é dividida desta forma? Achei que os distritos seriam diferentes após tanto tempo...
- Mas são diferentes, entretanto, você ficaria perdido se eu explicasse de outra forma...
- Está certo. Bem, obrigado Mestre dos portões. - Ao dizer isso, Argus que já se encontrava correndo intensificou sua velocidade e agora corria para um ponto fixo, e ao chegar na rua de William parou de correr... Agora caminhava lentamente, olhava com cuidado para todas as casas, parou em frente à casa de William e estendeu sua mão em direção à porta...
~ Não ouse, você já está exagerando. ~ Disse Nab na mente de Argus...
- Sei disso, mas tenho que saber meus limites...
~ Agora não, concentre-se em se livrar do transmorfo.
- Certo. - Ao dizer isso, baixou a mão e concentrou sua força em seu pé direito, era como se correntes de luz passassem por baixo de sua pele... Com um decisivo chute levou a porta ao chão.
~ Você é exagerado demais...
- Tenho que ser! - Disse sorrindo e ao levantar seu rosto viu o rosto de Thavis espantado em sua frente...
- Scharkai ainda está ativo - Sussurrou prestando atenção a cada detalhe no corpo de Thavis com seus brilhantes olhos vermelhos, ele viu faixas envolvendo o grande corpo daquele homem, faixas essas que no momento só ele era capaz de ver e fazer... Ele entrou na casa e respirou fundo sentindo diversos cheiros, mas o cheiro de mofo era predominante...
- Essa casa fede... - Sussurrou
~ CONCENTRE-SE!
- Tá! Já entendi caralho... - Abaixou-se, pegou uma lasca de madeira do tamanho de uma adaga da porta e caminhou até Thavis e encostou a a lasca no peito do mesmo e começou a sussurrar um encantamento ininteligível, ele falava em uma velocidade impressionante uma língua se falada lentamente talvez apenas uma ou duas pessoas em vahzya conseguiriam traduzir. Um líquido prateado começou a escorrer pelos olhos, ouvidos, nariz e boca de Thavis e ir em direção à lasca de madeira enquanto Argus recitava o encantamento.
Ao terminar o corpo de Thavis estava completamente seco, era possível ver os ossos por baixo da pele, e o graveto na mão de Argus possuía vida, não era mais uma lasca de madeira de uma porta, mas sim o projeto de uma árvore, possuía raízes, folhas e até mesmo seiva... O transmorfo agora vivia naquele corpo... Argus sentia ele tentando possuí-lo mas não era forte o suficiente para faze-lo...
Argus então anulou o Scharkai com alguns movimentos de sua mão, deitou o corpo de Thavis alí mesmo no corredor, virou-se e ergueu a porta. Ao parar do lado de fora da casa respirou fundo novamente e seu rosto se contorceu numa careta...
- Agora a casa fede mais ainda...
~ Aquele homem já estava morto a muito tempo...
- O cheiro vai denunciar logo... - Sussurrou com pesar - Que a alma dele tenha encontrado a paz...
Ao olhar para o lado viu William dobrar a esquina correndo...

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William acordou de repente, sua mente estava confusa, estava num lugar desconhecido, numa cama dura feito um pedaço de madeira, olhou para o lado e viu uma silhueta turva...
- Bom dia, elfo. - Era Argus, ele encontrava-se sentado em uma cadeira de pernas cruzadas com uma xícara de chá de camomila em sua mão, em uma golada bebeu metade do chá, a outra metade ele ofereceu a William que sentou-se na cama e esfregou os olhos por um certo tempo antes de tentar abri-los novamente
- Bom dia?
- Eu e Kunt trabalhamos para ficar mais fácil explicar o que ouve...
- Eu não estou estendendo nada...
- No caminho para cá ontem, nós fizemos uma transferência das minhas memórias para você, exatamente tudo o que aconteceu... E desde então você entrou em coma e eu te trouxe para o meu quarto e te deixei aí... Agora que acordou pode ir embora.
- O quê?
- Não vou explicar de novo...
Flashes de memórias preencheram a mente de William, sua cabeça parecia que iria explodir, seus olhos transbordaram...
- Certo... Não precisa realmente ir embora agora... Pode deitar, te trarei algo para comer...