Capítulo 65

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Pedro On

Ando de um lado para o outro, agitado e ansioso. Cléo demora para chegar, daqui  a pouco eu abro um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro.

Desde que eu descobri que ia ser pai, não falei com a Cléo e só comentei da novidade com o meu primo Arthur que reagiu de forma engraçada e sinceramente, não ajudou em porra nenhuma.

Cléo entra pela sala de cabeça baixa e evita qualquer tipo de contato visual comigo, sua respiração é pesada e sua postura é rígida. Eu a encaro na expectativa de que ela fale alguma coisa e facilite as coisas, mais a cada segundo que passa eu percebo que essa conversa não é pra ser fácil.

Pedro: Eu andei pensando...- antes que eu possa terminar de falar, ela me interrompe.

Cléo: Não precisa assumir, já pensei em tudo. Vou sair do morro e morar com minha tia em São Paulo, não vai precisar se preocupar com nada e minha tia vai me ajudar a criar.-ela dispara e eu fico repassando suas palavras em minha mente diversas vezes para entender que ela não ta brincando.

Pedro: Tu tá maluca ?- reclamo.- Se eu fui homem pra fazer, sou homem pra assumir !- estufo o peito e encaro ela que ainda não olha pra mim.- É ruim que eu vou deixar outro homem assumir o meu lugar de pai, vou te ajudar a criar a nossa cria. Tu fica aqui !- me aproximo dela e ela finalmente me encara.

Vejo ela abrir a boca várias vezes e em seguida fecha-la, deixando morrer as palavras que desistiu de dizer. Ela me encara desconfiada e tensa.

Cléo: Você não ta preparado pra ser pai.- ela diz fazendo uma careta e eu me sinto ofendido.

Pedro: E você tá ?- retruco e ela cora.- Meus pais não vão ficar contente em saber que vou ser pai aos 17 anos de idade mas logo vão deixar a raiva de lado e ficar alegres em saber que vão ter um neto ou uma neta.- dou de ombros.

Cléo: Você não entende ? Não temos condições para criar uma criança Pedro. Nenhum de nós trabalha, eu moro sozinha, meus pais já não se encontram mais na terra. Eu não tenho ninguém para me ajudar aqui no Rio. E quando essa criança nascer ? As roupas, fraldas, comida.. Amor não enche barriga.- ela fica cara a cara comigo.- Você sabe que vai ter que abrir mão das suas festinhas, das suas putas e de tudo o que você ta acostumado pra se dedicar a uma criança que depende não só de mim mas de nós dois.- ela me encara com os olhos marejados e isso me incomoda.

Pedro: Você não ta sozinha, eu vou te ajudar de alguma forma. Tem meus pais e meus tios que também vão me ajudar. Posso trabalhar, a gente reveza, quero ser um pai presente.- dou de ombros ainda perdido e meio enjoado com a ideia de ser pai.

Cléo: Você diz isso agora, quero ver na hora do vamo ver !- ela vocifera e isso me irrita.

Pedro: Qual foi Cléo ? Ta incomodada porque eu to tendo atitude de homem e não atitude de moleque que engravida a mulher e depois some da face da terra ? - tento conter a raiva.- Você acha que eu to de boa em ter engravidado logo você ? põe uma coisa na tua cabeça. Sou eu o pai dessa criança, e o que eu tiver que fazer pra cuidar dessa criança, eu faço. - bato no peito e encaro ela irritado.- Que fique bem claro que meu único interesse é nessa cria, enquanto você eu quero que se foda.- esbravejo e se afasto.

Me sento no sofá e o silêncio toma conta do lugar. Nenhum de nós dois encara o entro, é como se tivesse tendo uma guerra silenciosa bem no meio da minha sala.  Isso deveria ser uma brincadeira do universo, ser pai do filho da mulher que sempre briguei desde criança.

De canto de olho encaro a Cléo, ela limpas as lágrimas que deslizam suas bochechas discretamente, essa conversa não saiu do jeito que eu imaginei. Antes que eu me dê conta já estou caminhando em direção a ela, me ajoelho e a encaro e meio sem jeito eu digo:

Pedro: Sei que não planejamos isso e que jamais imaginaríamos que bem...acabaríamos criando uma família.- dou de ombros e ela concorda.- Só que agora temos que deixar esse ódio de lado e encarar isso de forma adulta, já não somos mais criança e pelo bem do nosso filho, devemos nós ajudar para que possamos ajudar ele.

Cléo: Você tem razão.- ela me encara com os olhos vermelhos.- É que essa situação me deixa tão apavorada, tenho medo que a gente acabe não dando conta, eu tenho medo de tanta coisa dar errado. Já vi meninas da minha idade e até mais novas que eu perder o bebe ou morrer no parto.- ela segura a minha mão e aperta, ela abaixa a cabeça e depois encara a própria barriga.

Pedro: Vira essa boca pra lá maldita, vaso ruim não quebra.- falo sério e ela ri.- Não precisa se preocupar com nada, vou conversar com meus pais e quem sabe eles me ajudam a arrumar barraco aqui no morro, você vai morar comigo e bom...- penso nas possibilidades de isso dar merda.- Vamos ver no que vai dar.

Ela ri descaradamente da minha cara, ri tanto que até põe a mão na barriga.

Cléo: Pra que tudo isso Pedro ? Vamos ter um filho e não casar e ir para a lua de mel.- ela ri e solta a sua mão.

Pedro: Porra mano, eu aqui pensando no melhor jeito de criar nossa cria e você zoando da minha cara ?- digo fingindo estar muito, muito mais muito bravo.

Cléo: Só acho desnecessário a gente morar junto, qual é Pedrinho ? Quais são as chances da gente ir morar junto e aparecer no cidade alerta por tentativa de assassinato ?- ela ri mais ainda e eu acabo rindo também.- Sem contar que, eu odiaria ver você trazendo suas putas e ter que escutar você transar.- ela faz careta.

Pedro: Eu não faria isso.- digo boquiaberto.- Provavelmente eu transaria na casa delas, você acha que eu não respeito as regras de casa ?- retruco.

Ela me encara desconfiada, quando ela levanta percebo que está de cropped e que sua barriga realmente deu uma crescida. Fico olhando e pensando no coração que está se formando dentro dela e que coisa maluca, carregar um ser que conforme se passa os meses ele vai se formando.

Pedro: Tu tá parecendo a peppa pig.- encaro a sua barriga e ela me olha furiosa.- Ta de quanto tempo ?- pergunto curioso.

Cléo: Três semanas.- ela encara a própria barriga.

Me aproximo e aperto sua barriga, fico alguns minutos cutucando de forma que não a machuque e ela me encara como se eu tivesse algum retardo mental.

Cléo: O que você ta fazendo seu idiota ?- pergunta irritada.

Pedro: To vendo se o monstrinho chuta.- digo de forma inocente.

Cléo: Para de ser tonto, ele não chuta ainda.- revira os olhos.

Como eu podia saber daquilo ? Não sou adivinha. Para a minha surpresa, Cléo e eu passamos o dia inteiro juntos por vontade própria e de noite contamos aos meus pais que ela estava grávida.

Eles acolheram a Cléo de braços abertos enquanto sermões e puxões de orelha me aguardavam mais tarde quando ela já não estivesse mais aqui. Eu nunca tinha visto a Cléo sorrir daquele jeito, um sorriso sincero e tão calma. Meus pais disseram que nós ajudaria até eu conseguir um emprego e já pudesse arcar 100% com minhas obrigações, embora eu tenha pegado eles de surpresa, eles estão feliz por que vão virar avos e ver meus pais felizes, me deixa feliz.

Entre o amor e o ódio, será que o amor vai conquistar esses dois ? O que vcs acham ?


Amor e Odio   2°tempOnde histórias criam vida. Descubra agora