Escutei o despertador, mas desliguei e fingi não ter acordado. Durmo pelo o que parecem ser cinco minutos até Clara entrar no quarto. Ela tira o cobertor do meu rosto e sua voz é baixa.
- Irmã... São 10h, você não vai tomar café¿ -meus olhos estão pesados o suficiente para não abri-los. –Vem só para o almoço¿
Confirmo com a cabeça e sem insistência ela sai do quarto e fecha a porta. Pareço mais cansada, como se tivesse corrido durante a noite inteira. As lembranças da noite passada retornam e tenho vontade em dormir de novo, mas não quero voltar a sonhar com ele.
Claro que a minha tentativa em “esquecer” ia ser totalmente falha, na verdade piorou foi tudo. Sei que tentar esquecer alguém é tolice e que não dá certo, mas a punica maneira que vejo sem superar isso é em fingir que nada aconteceu. Talvez se eu pudesse mudar minha forma de pensar em relação ao Harry, querer apenas curtir com ele assim como ele fazia comigo... As coisas teriam sido bem mais fáceis e eu não teria chorado tanto.
Ele pode não ter ficado noite passada, mas apareceu no meu sonho. Ou deveria chamar de pesadelo¿ Levanto e vou sem pressa até o banheiro. A água do chuveiro é quente e lavar o cabelo deixa-me mais leve. Uma terapia que aprendi, ainda na época de cursinho, para relaxar durante alguns minutos.
A touca que ele esqueceu no meu quarto ainda está aqui, não sei como vou devolver isto, se é que ele ainda quer. Para passar mais o tempo eu ligo a televisão e arrumo meu guarda-roupa, que magicamente está ficando bagunçado. O caderninho de strass dourados que comprei está dentro da bolsa que usei naquele dia.
O que estou sentindo no meu peito de certa forma é inexplicável, nem mesmo eu entendo direito. Como vou conversar com alguém sobre isto¿ Na verdade nem quero falar sobre, não quero escutar opiniões e eu gostaria de conversar... Apenas falar. Sei que Clara e Mariana me apoiam em qualquer decisão e me ajudam em tudo o que eu pedir, elas são anjos na minha vida, mas quando se trata de Letícia e sentimentos as coisas não são bem assim, não é tão simples. Não consigo me abrir e dizer tudo o que realmente estou sentindo.
Mas quando escrevo consigo pensar melhor, entender a situação e desabafo, completamente, sem censura ou limites o que estou sentindo. Costumava fazer muito isso: escrever em uma folha tudo o que estava me sufocando e depois rasgava o papel e jogava-o. Comecei a ter um diário e ele era um dos meus melhores amigos. Parece louco, mas quando eu quero apenas falar, sem escutar opiniões e saber que ninguém mais vai saber, a única opção é escrever.
Então pego aquele caderninho e uma caneta, sento na cama e escrevo toda a minha história com aquele rapaz de olhos verdes e cabelos enrolados. Digo em como me apaixonei de fã até a realidade e em como continuo apaixonada, a raiva por me sentir tão vulnerável e a dor sobre a noite passada.
As lágrimas idiotas escorrem quando descrevo cada detalhe do Harry, da sua voz ao seu corpo, a maneira como ele se veste e o jeito que sorrir. A forma como pensei que ele seria meu até encontra-lo de conversa com a garota no bar. Ao menos acabou no início, esta dor não vai para frente, a tendência agora é regredir.
Coloco o caderno no guarda-roupa e encaixo a caneta no seu arame, sei que ainda vou voltar a escrever nele.
Coloco um pouco de corretivo e pó para esconder as olheiras. O que passou passou e hoje começa outro dia sem mais lágrimas ou qualquer tipo de tristeza.
- Mesmo a essa hora encontro vocês na mesa, não cansam de comer¿ -tenho o tom divertido para disfarçar o sofrimento.
- São 12h querida, você levantou tarde demais. –disse Mariana.
- O que aconteceu¿ Está sentindo-se melhor¿ -Clara diz, olhando na minha direção. Olho para David e pela sua expressão deduzo que ele não contou o que realmente aconteceu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amigas, romances e Paris.
FanfictionTrês amigas vivem seus meses de gloria ao viver o romance sonhado a 4 anos com seus maiores ídolos. Mas muitas reviravoltas e provas aparecem no caminho e desafiam a decisão entre enfrentar as barreiras do sonho ou desistir e voltar a realidade.