Capítulo 62

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Mariana POV

   Quando abro a porta sinto meu coração na mão.

   David não está dormindo. Ele tem o ossinho em baixo dos olhos roxo e um corte no lábio, que também está inchado. O braço esquerdo dele está enfaixado.

   Não tenho certeza se quero saber como foi o acidente.

- Oi. –ele diz pra mim e tenta sorri, mas imagino o quanto as pancadas do rosto não estão doendo.

- Como se sente¿ -pergunto.

- Bem melhor agora.

- Sente alguma dor¿

- Não. Para de agir como se estivesse em hora de trabalho Mari. –ele ri e eu faço o mesmo. Estou nervosa, aliviada, triste... Não sei como consigo sentir tanta coisa ao mesmo tempo, mas pareço bem melhor que antes.

   Deslizo a cadeira para o lado dele e tento manter distancia entre as nossas mãos, não sei se consigo lidar com a rejeição dele agora.

- Como me achou¿ Eu não lembro do que aconteceu desde a batida.

- Alguém no hospital achou seu celular. –respondo.

- Ah... –ele diz e eu olho para as minhas mãos no colchão.

   Quando sinto o toque dele em cima da minha vejo os ferimentos também profundos nas mãos dele. Deito minha cabeça nas nossas mãos, estou tentando de tudo não chorar, mas é impossível, eu sinto como se tudo isso fosse culpa minha, e de certa forma sim eu tenho consciência que é.

- Eu fiquei tão preocupada, não dormir a noite inteira. –digo para quebrar o silêncio e ele tira a mão de baixo do meu rosto e leva até a minha cabeça, alisando o meu cabelo loiro.

- Me desculpe, eu literalmente apaguei.

- Estava ao menos usando cinto de segurança¿

- Sim.

- De quem foi a culpa da batida¿

- Investigação não é a parte do trabalho da Letícia¿ -ele diz e ri. Como ele pode ri a esta altura do campeonato¿

- Falo sério.

- Foi minha Mari. –ele responde rápido e volta a ficar sério.- Mas não quero falar sobre isso agora, eu sei que estou totalmente errado.

- A culpa disso é minha, se você não tivesse lido aquilo...

- Shh... –ele diz e coloca o dedo indicador nos meus lábios- Eu sei que precisamos conversar sobre isso, mas não agora. Quero só... Não sei, ficar olhando pra você.

- É¿ -riu. Ele é encantador mesmo quando está deitado em um maca de hospital cheio pecancadas. Esse cenário branco e fechado não combina com ele.

- Eu sonhei com você quando me doparam.

- O que você sonhou¿

- Nós dois e três pivetes correndo pela casa, você gritando com eles quando chutaram a bola de futebol e derrubou seu vaso de cristal em cima da mesa de centro. –ele diz e eu riu alto, a cena que foi montada na minha cabeça me fez imaginar o quanto eu deveria ter ficado brava. –Casa grande, cachorros...

- Foi algo bom para sonhar enquanto cuidavam de você. –David assente e eu pego a mão dele e levo aos meus lábios. –Eu quero te dar tudo isso. Filhos, uma casa grande e bem cuidada. Família reunida no natal, viagens para o litoral e ensinar nossos filhos a lerem e você ensinar nossos rapazes a jogar futebol.

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