Capítulo um

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Eu estava na sala de meu pai, que era comandante do exército de Illéa, ouvindo mais uma de suas inúmeras broncas. Desta vez, ele me pegou mandando um cervo fugir para que eu não precisasse caça-lo.

— Não posso acreditar nisso! Você sempre faz a coisa errada, Bronwyn! Você é um soldado, porra! - Meu pai berrava enquanto eu abaixava a cabeça.

Pelo menos dessa vez ele não me bateu, ou melhor, não teve tempo, já que alguém bateu na porta antes que ele batesse na minha cara.

— Comandante, o rei lhe enviou essa carta. - O rapaz disse, entregou a carta ao meu pai e saiu da sala.

Ao ler a carta, meu pai suspirou.

— O rei quer que eu arrume alguém para se infiltrar entre as selecionadas, o príncipe chegou a idade de se casar.

Assenti com a cabeça. Aprendi a não falar quando não for solicitado.

— Preciso treinar uma garota para proteger o príncipe. O rei acha que os ataques rebeldes irão piorar com a nova seleção. - Ele completou.

— Pai, eu sou uma garota. - Eu disse baixo, com medo.

— Quantas vezes eu já não lhe disse para não falar quando não for solicitado? - Ele disse gritando e apontando o dedo para o meu rosto. — Se bem que... - Ele me examinou de cima a baixo. — Talvez...

Não sou sinônimo de fragilidade, muito pelo contrário. Não tenho muitos músculos, mas me consideram forte, tanto fisicamente quanto mentalmente. Meu pai é a única pessoa que consegue pegar tudo que eu já conquistei, jogar no chão e pisar em cima. Me sinto ridícula perto dele, um nada, um verme, totalmente submissa.
Nada que eu conquisto nunca é o suficiente para ele, mesmo sendo a melhor da escola militar, portando armas como ninguém e dando uma surra nos garotos do acampamento, perto dele sou reduzida ao pó.

— Vou falar com a sua mãe. - Ele se retirou da sala, me deixando sozinha.

Sou da casta dois, nasci rica, mas nunca pude usufruir dos benefícios do dinheiro. Minha mãe é ex modelo, foi a única que conseguiu impedir meu pai de raspar meu cabelo por completo, deixando seu comprimento pouco acima dos meus ombros. Quando estou em combate, eles não me atrapalham.
Após alguns instantes, meu pai retorna com minha mãe agarrada no braço.

— Oh sim! Você deve ir a seleção! Imagina só o tanto de pretendente que vai aparecer aqui na porta quando você voltar! - Minha mãe exclamou animada.

— Não vá destruir tudo oquê eu demorei quase duas décadas para construir! Você é um tanque de guerra, garoto. Uma máquina de combate, não tem tempo para essas coisas de menininha. Então, não se empolgue quando for pra lá, esse lugar não é para você. - Ele apoiou na mesa, com cara feia.

Odeio quando ele me chama de garoto. Ou de "o Bronwyn", ou até mesmo de filho. Eu sou uma garota, poxa! Não pedi que ele me transformasse em um rapaz na mente dele.
Minha mãe, ao contrário, tenta me manter o mais feminina possível, mesmo não podendo controlar as ações do meu impulsivo pai.

— Está decidido então, você vai até lá e vai proteger aquele príncipe. Ou no mínimo morrer tentando. - Ele me olhou de cima a baixo com desdém.

Aparentemente não tenho escolha, então apenas assenti. Talvez seja bom ficar uns meses longe desse inferno.

A GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora