Capítulo dezoito

7.6K 738 37
                                    

Fiquei apenas encarando Cole por um tempo, totalmente sem reação. Quando voltei a mim, só consegui soltar um sonoro...

  — Mas que porr...

  — Calma. - Cole colocou a mão na frente da minha boca. — As pessoas vão ouvir você.

  — Mas que porra é essa? - disse outra vez, mas agora mais baixo, quase cochichando. — Como assim ela não é sua mãe?

  — A atual rainha é mãe apenas de Sam. - ele responde de forma fria.

  — E a sua mãe? Qual das duas é a rainha Safira? - pergunto curiosa.

  — Minha mãe era Safira. A impostora se chama Rubi, irmã gêmea de minha mãe. Elas eram filhas de um minerador de pedras preciosas. A escolha do nome foi meio brega pra dizer o mínimo. - ele diz tentando desfocar o assunto.

  — O que aconteceu com a sua mãe?

   Ele suspira de forma pesada.

  — Vamos sair daqui. - ele levanta e estende a mão para mim, me guiando para o interior do castelo.

  — Para onde estamos indo? - pergunto a ele.

  — Será que você não consegue ficar sem fazer perguntas por alguns minutos? Vou esclarecer tudo, prometo. Mas precisamos de um lugar adequado.

  Após isso, não questionei mais.
  Cole me guiou para uma biblioteca particular da família real, existiam alguns "enigmas" que uma pessoa qualquer não saberia decifrar, mas Cole conseguiu com facilidade, o quê me fez pensar se ele visitava aquele lugar com frequência.

  — Entre. - ele puxou uma porta para mim.

  Entrei. Olhei para todos os lados. Fui até uma prateleira que me pareceu interessante pois a maioria dos livros estavam livres de pó, diferente dos outros presentes na biblioteca. Ao ler os nomes, percebi do que se tratava.

  — Mitologia... - a palavra escapou de minha boca. Era por isso que ele conhecia tanto sobre outras culturas.

  — Gosto de vir aqui para ler sobre isso. Os livros foram banidos por não se tratar da cultura de Ilhéa, mas uma cópia de cada um foi trazida para essa biblioteca. - ele explica.

  — Ok, agora me conte sobre sua mãe.

  Mais uma vez ele suspira e se senta, parecendo cansado.

  — Uma vez, fomos passar o verão na mansão de verão da minha família. Nisso, conhecemos a irmã da minha mãe, ou pelo menos eu conheci. Tia Rubi era idêntica a ela com excessão de uma pinta acima da sobrancelha... - ele faz uma pausa. — E da personalidade.

  Eu não sabia onde aquela história iria parar. Decidi me sentar de frente a ele.

  — Ela não era muito conhecida. Eu não me lembro muito bem mas acho que ela não gostava de ser uma figura pública e queria ter uma vida normal. No fim das "férias", meu pai senta para conversar comigo. Diz que mamãe dormiu e não acordou mais. Acho que foi algo com o coração ou sei lá, não entendi muito bem, eu era só um garoto.

  Não pude deixar de sentir uma enorme compaixão pelo príncipe, mas deixei com que seguisse sua história.

  — Bom, eu perguntei a ele em outros momentos sobre a morte da mamãe e ele apenas disse que não poderíamos falar sobre aquele assunto pois era muito delicado e o deixava muito triste. Depois de tantas tentativas eu apenas deixei pra lá.

  — E como a atual rainha chegou onde chegou? - pergunto.

  — Essa é a parte que mais me revolta. - ele passa a mão em seus cabelos deixando-os desalinhados. — Na noite em que minha mãe morreu, meu pai me disse que a tia Rubi agora assumiria seu lugar. Ela levaria o mesmo nome que minha mãe e eu nunca poderia dizer a ninguém. Nunca entendi o porquê, mas a ideia de ter alguém no lugar da minha mãe "substituindo" ela me machucou demais. - ele pega uma garrafa de whisky que estava na mesinha de centro, coloca um pouco em um copo e bebe em apenas um gole. — A pior parte é que eu nunca soube o motivo. Teoricamente seria para não gerar alarde e luto no país, pois mamãe era uma rainha muito querida.

  — E como você reagiu? - pergunto a ele.

  — Eu não tive como reagir. - ele ri, mas percebo que ele não está achando graça nenhuma. Quando voltamos pra cá, meu pai me colocou em um avião e me mandou para outro país. Ele dizia que eu precisava estudar e esquecer de tudo isso. Fiquei em um colégio interno por cerca de dois anos e, quando voltei, aqui estava ela, no lugar da rainha. 

A GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora