De Repente Amor ✔

Capítulo 67

Alfonso

Por que eu?

Perdi a conta de quantos rolos de papel eu já gastei.

Quantas horas eu já perdi pensando em você.

Lembrando.

Revivendo suas mentiras.

Por que eu?

Só porque você juntou os cacos do meu coração e fez um novo, você achou que isso te dava o direito de destruí-lo outra vez?

Você me tinha nas suas mãos.

Você ganhou minha confiança.

Por que eu?

Quase não reconheço a garota de olhos inchados e desanimada que eu encontro cada vez que me olho no espelho.

Posso ouvir as risadas das pessoas no corredor quando eu passo.

Risadas que tantas vezes eu dei quando você as tirou de mim com seu jeito engraçado.

Debochado. Malicioso.

Algumas dessas pessoas me olham com dó.

Outras olham e devem pensar: "Mais uma pra lista dele".

Por que eu?

Sinto falta das nossas conversas e de tudo que eu perdi.

Da "amiga" conselheira que você era.

Do apoio mútuo.

Das aulas sobre o gelo e dos tombos que ela provocava.

Do seu toque.

Da sua voz.

Do jeito que você me olhava.

E principalmente de como eu me sentia quando estava com você.

Viva.

Especial.

Encaixada no mundo.

Mas foi tudo uma mentira não é?

Por que eu?

Talvez eu nunca vá saber.

Talvez nem você saiba a resposta.

As palavras de Anahí são como facas afiadas perfurando meu coração. Sento na cama, cubro minha boca com a mão, enquanto a outra segura o papel. Leio e releio o poema dela. Eu imaginava que ela estava com raiva, ofendida, se sentindo enganada, mas não tinha noção da extensão do mal que eu fiz à ela com as minhas mentiras. Aquilo não era um poema, era um desabafo. E agora que eu sabia que ela estava indo embora, eu entendia porque ela escrevera aquilo. Ela nunca foi de se importar com a opinião dos outros e deveria estar se importando menos ainda agora que estava saindo da UW.

Volto a ler o poema e não consigo parar de chorar, sinto raiva e remorso. O que foi que eu fiz com a gente?

Enxugo o rosto e encaro as palavras dela. Quero dizer à ela que não foi tudo uma mentira, quero que ela saiba o quanto significou pra mim, todo o bem que ela me fez. Quero que ela entenda o quanto foi importante pra mim, como ela me ajudou, o quanto eu a amo e que também sinto falta de nós.

Queria que ela estivesse aqui na minha frente pra que eu pudesse responder a esse poema, olhando nos olhos dela. Quem sabe assim ela acreditaria em mim? Ou pelo menos me daria o benefício da dúvida?