Capítulo 90

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Alfonso

Desde que sofri o acidente estou vivendo na escuridão. Fui obrigado a deixar de jogar o esporte que mais amo no mundo, tenho que encarar o medo diário de esquecer as feições das pessoas mais importantes na minha vida e além de tudo, tenho que, todos os dias, engolir a frustração por depender da ajuda de outros.

Mas hoje isso vai acabar! Hoje volto a enxergar!

Respiro fundo e tento acalmar meu coração disparado enquanto sinto a médica e as enfermeiras mexendo no meu rosto. Sei que meus pais e a Any estão de pé, bem na minha frente, portanto não vejo a hora de abrir meus olhos e encará-los. Uma das coisas que mais sinto falta é o sorriso da Any, principalmente dos sorrisos que só eu consigo arrancar dela.

Prendo a respiração quando a médica remove as gases. É agora. Mal posso acreditar que esse momento chegou.

- Ok Alfonso, você já pode abrir os olhos. - a médica diz.

Abro meus olhos e vejo que a escuridão não se foi. Pisco algumas vezes, acreditando que é uma questão de ajuste, mas a escuridão não vai embora. A luz não entra em seu lugar. Continuo não enxergando nada.

Agarro os lençóis, enquanto um bolo se forma no meu estômago. Não. Não pode ser.

- E então Alfonso, consegue ver alguma coisa?

- Não! - respondo de maneira bruta e agarro com ainda mais força o lençol. - Não estou vendo nada doutora, eu continuo cego!

- O que? - ouço a voz engasgada da minha mãe.

Não acredito que isso está acontecendo, minha cabeça ta girando. Pisco várias vezes, ordenando aos meus olhos que comecem a enxergar, mandando meu cérebro fazer seu trabalho direito.

"Anda funciona merda, funcionaaaaa!"

Mas é inútil, meu cérebro e meus olhos não me obedecem e eu continuo no escuro.

- Fiquem calmos, a cirurgia deu certo. Há casos em que os pacientes não enxergam de primeiro momento, mas com o passar dos dias a cegueira vai se revertendo sozinha.

Meu cérebro registra as palavras dela e explodo com ela.

- SUA MENTIROSA! - grito. - Você falou a mesma coisa quando sofri o acidente, que eu podia voltar a enxergar sozinho E NÃO ACONTECEU NADA!

- Alfonso fique calmo, a casos em que mais de uma cirurgia é necessária para repararmos....

- EU NÃO VOU FAZER OUTRA PORRA DE CIRURGIA, VOCÊS NÃO PASSAM DE UM BANDO DE MENTIROSOS, IMCOMPETENTES!

- Filho....

- SAIAM DAQUI, ME DEIXEM SOZINHOS!

- Alfonso, você precisa manter a calma. - a médica pede.

Quando suas mãos encostam em mim eu e a empurro com força. Ouço ela bater em algum lugar e então um enfermeiro me segura. Me debato cheio de ódio e minhas mãos batem em alguma coisa que vai pro chão. Tento me levantar da cama, quero ir embora dessa merda de hospital, quero sumir, mas o enfermeiro me segura.

- SAIAM DAQUI!

- Filho, por favor.

- QUE PARTE VOCÊ NÃO ENTENDEU MÃE? SAIAM DAQUI!

Ouço os soluços da minha mãe e percebo que eu também estou chorando. Mas duvido que isso está doendo em algum deles mais do que está doendo em mim.

- VÃO EMBORA! - me debato.

- Vamos deixá-lo a sós um pouco. - ouço a médica dizer.

- ISSO SUA INCOMPETENTE, SAI DAQUI. SUA SORTE É QUE EU NÃO ESTOU CONSEGUINDO VER.

De Repente Amor ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora